quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Município investiu 480 mil euros em ações estruturais de defesa da floresta contra incêndios

No passado dia 14 de dezembro foi apresentado, em reunião da Comissão Municipal de Defesa da Floresta de Vila Nova de Cerveira, o relatório do Plano Municipal de Defesa da Floresta Contra Incêndios 2008-2012, destacando-se uma taxa de execução de cerca de 66% das ações estruturais previstas. Esta taxa refere-se à execução de 174,5 hectares de faixa de gestão de combustível, 357 hectares de mosaico de parcelas de gestão de combustível com recurso a fogo controlado, beneficiação (desmatação e alargamento) de 121 km de rede viária florestal, construção de 4 pontos de água e a manutenção de outros 11 pontos de água.

A par destas ações, foram intervencionados (correção de densidade e alinhamento) 28 hectares de pinhal regenerado, foram realizadas campanhas de sensibilização, ministradas cerca de 250 horas de formação aos elementos das unidades de 1ª intervenção e combate do concelho, enquanto os técnicos afectos ao Serviço Municipal da Protecção Civil – Gabinete Técnico Florestal receberam cerca de 250 horas de formação na área do fogo controlado, investigação de causas de incêndios, análise de incêndios e fogo supressão. O investimento do município para a execução das ações estruturais estabelecidas neste plano foi de cerca de 480 mil euros.

Foi também aprovado, na reunião da CMDF, o Plano Municipal de Defesa da Floresta Contra Incêndios que vigorará no concelho pelo período de 2013 a 2017. Esta segunda geração do PMDFCI, à semelhança do seu antecessor, estabelece um conjunto de ações operacionais que visam a defesa da floresta contra incêndios, prevendo-se a beneficiação de 177,6 quilómetros de rede viária florestal, a execução de 207 hectares de faixa de gestão de combustível, a manutenção de 12 pontos de água, e a execução de 543 hectares de mosaicos de parcelas de gestão de combustível com recurso ao fogo controlado.

Para além destas ações estruturais e dando continuidade ao trabalho dos anos anteriores, está previsto um conjunto de ações imateriais, destacando-se as campanhas de sensibilização, reforço da fiscalização e vigilância, bem como o desenvolvimento de ações de formação. Destaca-se igualmente a importância da aplicação de medidas e ações concretas que incidam sobre a gestão florestal, promovendo a sua valorização económica.

A par do PMDFCI foi aprovado o Plano de Fogo Controlado para o mesmo período de vigência de 2013 a 2017.

sábado, 17 de novembro de 2012

Protecção Civil poderá passar para supradistrital

 Fonte: Correio da Manhã 
17.11.2012
Ricardo Garcia, Ana Fernandes

 O ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, disse esta terça-feira que é "preciso dar um passo em frente" na reestruturação da protecção civil, que poderá passar pela substituição do actual modelo distrital de organização para um plano supradistrital.

 "É essencial, do ponto de vista operacional, uma apurada distribuição de meios e competências, o que, nesta linha, não pode deixar de levar à ponderação sobre o actual modelo distrital de organização e à sua eventual evolução para um modelo supradistrital", disse Miguel Macedo, na tomada de posse do novo presidente da Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC), o major-general Manuel da Silva Couto. Actualmente, existe em cada distrito um Comando Distrital de Operações e Socorro (CDOS) que depende directamente da ANPC.

No discurso, o ministro adiantou que "é preciso dar um passo em frente" e "olhar para a especificidade das várias zonas de acção" e distribuir os meios e as competências em função dessa avaliação. O governante sustentou que o Governo quer que "este salto em frente" na organização da protecção civil se faça através de partilha de opiniões. Para Miguel Macedo, esta reestruturação tem que permitir "a racionalização de custos, modernização do sector e uma melhoria da gestão de recursos".

O ministro afirmou que esta sexta-feira começa "um novo caminho para a protecção civil", que terá que passar por um compromisso de eficiência e procura de novas respostas, sendo a reestruturação "o passo em frente" que se quer dar. Miguel Macedo anunciou também que é preciso rever o papel da Escola Nacional de Bombeiros, que deve evoluir para um sistema que "no essencial" se transforme numa "escola de formação de formadores" e que leva a formação junto dos corpos de bombeiros espalhados pelo país.

Na cerimónia, frisou ainda que vai ser dada execução ao novo regime de financiamento das corporações de bombeiros, que, pela primeira vez, olha para critérios de risco, nível de serviço prestado e tipificação dos corpos de bombeiros. Segundo o ministro, este modelo significa um reforço de mais de 10 por cento, em 2013, das verbas atribuídas às corporações de bombeiros através do Programa Permanente de Cooperação.

No final da cerimónia de tomada de posse, o ministro e o novo presidente da ANPC não prestaram declarações aos jornalistas.

O major-general Manuel da Silva Couto, que exercia funções de comandante do Comando da Administração de Recursos Internos (CARI) da GNR, substitui o major-general Arnaldo Cruz, que estava à frente da ANPC há sete anos. Arnaldo Cruz terminou esta semana funções, uma vez que chegou ao limite de idade (70 anos) para poder permanecer no cargo. Foi o ministro da Administração Interna que indicou o nome do major-general Manuel da Silva Couto para presidente da ANPC, tendo este merecido parecer favorável do Conselho Nacional de Protecção Civil.

Postado por: Emanuel de Oliveira
SMPC-GTF Vª Nª de Cerveira

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Matas e baldios poderão ser transferidos para os municípios

Fonte: Publico
22.10.2012
Ricardo Garcia, Ana Fernandes

Foto: Enric Vives-Rubio

O secretário de Estado das Florestas e Desenvolvimento Rural, Daniel Campelo, quer mais gente na floresta. Para que o abandono não potencie os grandes incêndios.


Sempre que há um Verão mais severo, aumenta a área ardida, ao contrário das metas estabelecidas. O que está a correr mal?


O abandono rural foi muito negativo. Temos de reverter essa situação e a melhor forma é a prevenção. Para isso temos de aumentar o número de pessoas a trabalhar diariamente na floresta. Temos um programa de sapadores, com 283 equipas de cinco pessoas, e eu queria o dobro. É preciso mais gestão activa, responsabilizando mais os proprietários e dando-lhes meios para se motivarem. E há que reforçar o associativismo florestal dando consistência às ZIF [zonas de intervenção florestal].

Parte do esforço na prevenção foi transferida para as câmaras. Isso está a resultar?


Não é igual em todo o lado. Há maior consciência nos municípios sobre a importância da gestão da floresta e do território rural. É por isso que estamos a discutir a transferência de competências da administração central para as comunidades intermunicipais e uma delas é a gestão florestal. Os serviços da administração central têm a seu cargo a gestão das matas nacionais e dos baldios, que são das comunidades locais. Gostaríamos que essa gestão fosse feita na proximidade dessas comunidades. Tem havido uma redução forte das pessoas que trabalham na floresta dos serviços oficiais, de cerca de 4000 para 900 pessoas em pouco mais de 20 anos, e se estas pessoas desaparecem da floresta, outras têm de entrar.

Os fogos florestais são uma fatalidade?


Mesmo os países ricos, com uma gestão florestal musculada, têm este problema. O ordenamento florestal e a gestão activa da floresta permitem que a dimensão [dos fogos] não seja tão grande.

Houve este ano um incêndio no Algarve de dimensões catastróficas...


As condições que levaram ao maior fogo, no Algarve, foram seguramente uma conjugação adversidade temperatura, humidade e vento. Mas não podemos cruzar os braços e dizer que isso é uma fatalidade. Temos de reforçar a capacidade de resposta na prevenção e no combate. Não há outro caminho.

Tem sido muito criticado o facto de os gabinetes florestais das câmaras irem buscar dinheiro ao Fundo Florestal Permanente, tirando-o de outras acções necessárias...


Quando era presidente de Câmara, não concordei com a facilidade na constituição de gabinetes técnicos florestais municipais. A floresta não pode ser vista espartilhada. Temos vantagens em que seja pensada numa escala para além do espaço municipal. O que não quer dizer que cada município não possa ter a própria sua estratégia de reforço. O planeamento, a transposição das políticas e a activação dos mecanismos é que têm de ultrapassar o nível municipal.

Haverá alguma mudança de onde vem o dinheiro?


Estamos a discutir, temos conversado com a Associação Nacional de Municípios Portugueses para que possamos evoluir na delegação de competências. Vamos ter de ir cada vez mais neste sentido.

Uma das críticas que se fazem ao combate aos fogos é a de que vence quem grita mais alto nos comandos, geralmente o político eleito. E os técnicos calam-se.


Não vou comentar áreas que não são da minha competência.

Mas os técnicos, que têm o conhecimento, são da sua competência...


O que acho é que tem de haver cada vez maior compromisso entre as pessoas que trabalham na floresta, quer na prevenção, quer no combate. É fundamental que haja no futuro mais gente a trabalhar todo o ano na floresta, com uma experiência adquirida do território e do comportamento do fogo que lhe dará vantagens nas situações de combate.


segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Técnicos dos GTF's participam no Curso de Análise de Incêndios e de Fogo de Supressão

Postado por: Emanuel Oliveira
SMPC/GTF de Vª Nª de Cerveira

No passado dia 25 de Setembro, no Porto, teve início o primeiro Curso de Análise de Incêndios e de Fogo de Supressão reconhecido pela Autoridade Florestal Nacional (Ref.ª n.º 308/DUDEF).
Esta acção visa dotar os formandos de conhecimentos teóricos e práticos que permitam capacitar os técnicos para uma melhor interpretação do comportamento do fogo e análise dos incêndios, apoiando a tomada de decisão do responsável pelo Comando de Operações e Socorro. Por outro lado, este Curso vem formar os técnicos participantes no uso correcto do fogo de supressão nas operações de combate: fogo táctico e contrafogo – mediante a identificação e avaliação de oportunidades, planeamento, organização e segurança.




Este Curso com uma carga horária de 63 horas, distribuídas por 9 dias de formação, é ministrado por formadores altamente experientes da empresa galega Consultoría Natutecnia S.L, designadamente:
  • Santiago Couceiro - Eng.º Florestal, Director de Natutecnía e Coordenador de Meios Aéreos da Galiza;
  • Pablo Pérez Costa - Eng.º Técn. Florestal, Técnico de Brigada Helitransportada, como Coordenador de Meios Aéreos;
  • António Candá - Eng.º Técn. Florestal, Técnico de Brigada Helitransportada, como Coordenador de Meios Aéreos e Técnico da Equipa de Prevenção de Incêndios Florestais-EPRIF.

A formação teórica conta ainda com a formadora Rosa Planelles González, Engenheira Florestal, directora da EIMFOR, SL e Docente de Defesa Florestal na Escuela Técnica de Ingenieros da Universidad Politécnica de Madrid.

Em termos gerais, nesta acção são exploradas e aprofundadas diversas temáticas relacionadas com o comportamento e extinção dos incêndios florestais: Meteorologia de Incêndios, Comportamento Extremo do Fogo, Sistema de Previsão de Campbell, Simuladores de Incêndios, Análise de Incêndios – Casos Práticos, Planificação do Fogo de Supressão, Planificação da Segurança, Gestão do Risco, Exercícios Práticos com fogo real, entre outros temas.

Em virtude de diversos factores que se prendem sobretudo com a alteração do uso dos solos e a mudança climática, os incêndios florestais tendem a aumentar a sua intensidade e capacidade destrutiva pelo que, tal como já se verifica em vários países do mundo, existe a necessidade de integrar técnicos analistas nos teatros de operações para documentar e registar o desenvolvimento de um incêndio, bem como para o importante papel de apoio ao COS na tomada de decisão nas operações de extinção.

A realização deste Curso mereceu desde logo uma elevada receptividade por parte dos técnicos dos Gabinetes Técnicos Florestais de diversos Municípios, bem como de outras entidades com funções de defesa e combate a incêndios florestais.

Nesta pioneira acção participam 17 técnicos provenientes dos GTF’s de Seia, de Felgueiras, de Santo Tirso, de Vila Nova de Cerveira, de Vimioso, de Cantanhede, de Valongo, de Oliveira do Hospital, de Águeda, de Melgaço, de Porto de Mós, de Penafiel, de Paredes de Coura, de Celorico de Basto, de Chaves e de Gondomar, bem como 5 técnicos de outras entidades e organismos.

sábado, 22 de setembro de 2012

Proposta de um Modelo para Determinação do Índice de Risco de Incêndio Florestal

Postado por: Emanuel Oliveira
SMPC/GTF de Vª Nª de Cerveira
 
Adaptação do Lowveld Fire Danger Rating System/Fire Danger Index de Laing & FDI de McArthur

O Modelo que seguidamente se apresenta é uma adaptação do modelo Fire Danger Rating System de Lowveld (LFDRS) amplamente utilizado na África do Sul.

O LFDRS da África do Sul é uma adaptação do Fire Danger Index (FDI) desenvolvido por Michael Laing no Zimbabwe (então Rodésia) em 1968 (Laing, 1978). O modelo básico utiliza as mesmas entradas que o modelo de McArthur, que são dimensionadas para produzir um modelo simples que pode determinar valores facilmente sem precisar de cálculos complexos. (McArthur 1958, 1967).

O cálculo do Burning Index (BI) usa um nomograma simples recorrendo aos valores da temperatura e da humidade relativa. Uma vez que o valor do BI foi obtido, ele é, então, ajustado para o vento pela adição de um Fator de Correcção de acordo com as condições (velocidade) de vento predominantes às 13:00 UTC (hora solar).
A disponibilidade de combustível fino é calculada por meio de um "Fator de Correção de Precipitação" que usa o valor da precipitação acumulada nas últimas 24h antecedentes para ajustar o BI.

Optei por adaptá-lo a Portugal, pelo que contei com a colaboração do colega Luis Matos (GTF de Melgaço), o qual tem vindo a recolher informação local e proceder a teste. A adaptação apenas incidiu numa pequena alteração sobre o Fator de Correcção da Precipitação e numa adaptação das Classes de Risco.
Enquanto no modelo original são atribuídos factores de correcção a valores de precipitação inferiores a 1,0 mm, no modelo adaptado consideramos atribuir o valor 1, em virtude de que pelas nossas observações a precipitação acumulada de 1 mm em 24 horas nos nossos combustíveis florestais praticamente não influi na ignição e na velocidade de propagação, bem como na intensidade. Esta influência é ainda menos marcante em combustíveis de 1h e de 10h, onde a humidade é perdida com mais facilidade, principalmente com valores tão reduzidos de precipitação. As classes de risco FDI (traduzido para IRIF) foram adaptadas à nossa meteorologia, isto é, aos nossos valores de temperatura e de humidade favoráveis à probabilidade de incêndios florestais.

Quando se pensou na adaptação deste modelo, pensou-se numa forma simples de determinação do risco de incêndio florestal à mão de qualquer combatente para a sua planificação das acções de prevenção, de modo a auxilia-lo sem grandes questões de ordem técnica ou científica, pois o que realmente interessa ao responsável por uma equipa de vigilância, 1ª intervenção ou combate, é conhecer o risco provável para as próximas horas. Igualmente, pode ser uma ferramenta muito útil para os responsáveis pelas Juntas de Freguesia, na informação do risco de incêndio à população rural, fora do Período Crítico, sobre as condições de segurança para a realização de queima de sobrantes.
A grande vantagem deste modelo está na sua simples interpretação com base numa planilha (ver link para descarga), facilitando a planificação da prevenção, pelo que face a esta vantagem tentamos adaptá-lo às condições meteorológicas do nosso território. Pode ser mais um instrumento importante para a apoiar a tomada de decisão em acções de prevenção, por qualquer pessoa com responsabilidades nestas matérias.
Apenas precisamos dos valores de uma simples estação meteorológica, referentes ao vento (km/h), à temperatura (ºC) e à humidade relativa do ar (%), bem como a precipitação acumulada (mm), caso se verifique. Para o cálculo do IRIF interessam-nos, preferencialmente, os valores registados às 13 UTC (hora solar).
Para além deste Risco de Incêndio, é conveniente ter particular atenção à direcção do vento, à hora (solar) e à exposição da encosta. Segundo as Curvas de Inflamabilidade de Campbell (CPSL) poderemos estimar o período de máxima inflamabilidade de uma dada encosta, onde um incêndio ocorrendo atingirá um pico de intensidade nessa mesma encosta, cuja mudança poderá levar a um aumento ou redução da intensidade no comportamento do fogo.

Saliento que se trata ainda de um modelo experimental, mas que até ao momento tem demonstrado alguma coerência, face aos testes levados agora a cabo pelos técnicos dos GTF’s do Alto Minho, elementos do GIPS da GNR e elementos das Corporações de Bombeiros Voluntários de Vila Nova de Cerveira e de Valença. Porém, devemos continuar a fazer os testes e a validar os dados, pelo que fica aqui para descarga uma simples planilha que o auxiliará na determinação do Índice de Risco de Incêndio Florestal (IRIF).

Agradece-se pois que faça chegar os seus comentários, observações e sugestões para o e-mail: gtfcerveira@gmail.com.

O USO DESTE MODELO NÃO SUBSTITUI O RISCO DE INCÊNDIO OFICIAL USADO NO NOSSO PAÍS (FWI), PUBLICADO DIARIAMENTE PELO INSTITUTO DE METEOROLOGIA.

Vamos então a um simples exemplo explicativo:

Segundo o site da METEOPT regista para o dia 22 de Agosto, às 12 UTC, em Viana do Castelo, os seguintes valores de:

Para sabermos o Índice de Risco de Incêndio Florestal (IRIF) procedemos da seguinte forma:

1. Estimar o Factor de Correcção da velocidade do vento, km/h
Para isso basta apoiar-se na seguinte tabela:
Ou seja, com base na tabela para um vento de 21 km/h obtemos uma correcção de 15.

2. Calcular o valor do Burning Index (BI)
No quadro de alinhamento, utilize uma régua e una o valor da temperatura ao valor da humidade relativa, pelo que obterá o valor do BI - Burning Index.

Pelo que obtemos o valor de BI de 33.

3. Estimar o Factor de Correcção da Precipitação, mm/24h
Como a precipitação acumulada nas últimas 24 horas foi inferior a 1 mm, vamos proceder agora à sua correcção com o auxílio do quadro abaixo.

Em virtude da ausência de precipitação o Factor de Correcção será de 1.

Sendo assim, procedemos então ao cálculo:
Burning Index (BI): 33
Factor de Correcção da Precipitação: 1 x 33 = 33
Some o Factor Vento: 15

Índice de Risco de Incêndio Florestal (IRIF): 48

O Índice de Risco de Incêndio Florestal é ALTO para Viana do Castelo para o dia 22 de Setembro de 2012.

Aqui fica para descarga, a planilha para estimar o Índice de Risco de Incêndio Florestal (em teste).

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Artigo de Opinião: O abandono florestal é causa de acidentes de combatentes!?

Postado por: Emanuel Oliveira
SMPC/GTF de Vª Nª de Cerveira

Após a leitura do artigo publicado no Público online, de 18.09.2012, titulado «Bombeiros dizem que abandono florestal e clima tornam fogos “menos previsíveis”», cujas declarações e opiniões são da exclusividade de Jaime Soares, Presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP), pelo que discordando com a natureza das justificações relativamente aos acidentes que vitimaram mortalmente, neste verão, três combatentes, cumpre-me esclarecer algumas questões para o bem de todos os combatentes e responsáveis pelo combate.

Apesar de concordar com a situação crítica da gestão florestal pública, comunitária e privada, completamente subvalorizada, não podemos desresponsabilizarmos-nos das nossas responsabilidades como coordenadores de combate, principalmente quando temos a cargo vidas de terceiros que voluntariamente dão a sua vida por uma causa de todos. A floresta com elevada densidade e disponibilidade de combustível associada a uma meteorologia favorável a incêndios é um meio hostil que qualquer combatente de incêndios conhece e respeita.

Todo o combustível vegetal presente na floresta portuguesa, associado às monoculturas, principalmente, de pinheiro-bravo e de eucalipto, têm características altamente inflamáveis que com um extenso período de seca, temperaturas elevadas, humidade relativa baixa e vento forte, vão ser incrementadas.

O Presidente da LBP da sua larga experiência com ligação aos bombeiros, desde a sua juventude, também se deve recordar que até à década de 80 os bombeiros apoiavam o combate aos incêndios florestais, o qual era realizado por experientes equipas – as brigadas florestais - dirigidos pelos então designados mestres florestais do Corpo Nacional da Guarda Florestal da Direcção Geral das Florestas (actualmente incorporados na GNR com funções de fiscalização). O combate até então era realizado com pouco uso de água e muito trabalho de ferramenta manual e baseado na observação do comportamento do fogo. Muitas corporações de bombeiros ganharam esse conhecimento empírico e experiência junto das brigadas florestais, detendo hoje respeitáveis combatentes. A chegada das “autobombas” e o consequente uso abusivo da água, acompanhado do abandono das técnicas manuais levou à perda do conhecimento do comportamento do fogo.

A “violência dos incêndios e pela imprevisibilidade da sua progressão no terreno” está relacionada única e exclusivamente com o comportamento do fogo e a imprevisibilidade é tanto maior quanto o seu desconhecimento e interpretação. Hoje mais do que nunca, já não se admite no século XXI que incêndios florestais no Sul da Europa sejam combatidos unicamente com água, sem o devido acompanhamento técnico para documentação e análise, de modo a assessorar o COS, permitindo um combate mais eficaz, sem excesso de meios e de custos e, principalmente, reduzindo os riscos de vítimas em combate.

Se os bombeiros que foram vítimas dos incêndios florestais deste ano “não actuaram por aventureirismo, nem falta de conhecimentos”, então o que falhou? Se antes a "culpa" era da mudança do vento, hoje a "culpa" parece ser do abandono florestal e da mudança climática. Esta questão abre um conjunto de questões essenciais, tais como:

Foi estabelecido o Protocolo LACES? Todos os combatentes respeitaram as 10 Regras de Segurança e tiveram em consideração as 18 Situações de Risco? Conheciam e sabiam que trabalhavam na ZHM (Zona do Homem Morto)?
Exemplos como os do seguinte link demonstram falta de conhecimento e de interpretação do comportamento do fogo, pelo que arriscam-se vidas importantes com situações que campanha após campanha se repetem:
Incêndio em Arganil obrigou à evacuação da aldeia da Aveleira - País - Notícias - RTP

Não podemos nem devemos de julgar quem voluntariamente sacrifica a sua própria vida, mas a sociedade e principalmente, todos os combatentes têm o direito de saber a causa real e as condições em que se deu um acidente, com o fim de evitarmos a repetição de situações de risco semelhantes. A documentação, a análise de incêndio e os respectivos relatórios de acidentes associados são obrigatórios para uma melhoria da segurança de quem tanto dá.

Cabe-me como técnico, preocupado com o problema dos incêndios florestais e com a segurança dos combatentes, alertar o para o facto de que o combate aos incêndios não pode ser assumido como a opinião do Presidente da Liga quanto à causalidade dos incêndios florestais, pois é uma opinião baseada na sua estimativa pessoal, sem qualquer fonte que a suporte. Hoje importa, como no passado, mas recorrendo às novas tecnologias e técnicas, assessorar a importante tomada de decisão do responsável pelo combate, com base em dados registados no ambiente de fogo, na análise ao comportamento do fogo e no estrito cumprimento dos protocolos de segurança. Os incêndios florestais cada vez vão ser maiores e mais destrutivos, mas a perda da vida humana deve ser evitada a todo o custo.

"Não podemos evitar os riscos, mas podemos preveni-los."


quarta-feira, 19 de setembro de 2012

CURSO EM ANÁLISE DE INCÊNDIOS FLORESTAIS E USO DE FOGO DE SUPRESSÃO

 Artigo de: Artur Borges - GTF de Felgueiras
Paulo Bessa - GTF de Penafiel

O Território Português, à semelhança dos restantes Países Mediterrâneos, reúne as condições necessárias para a ocorrência de Grandes Incêndios Florestais (GIF), caracterizados por grandes áreas ardidas e por um comportamento extremamente violento do fogo, e que obrigam a uma mobilização e empenhamento de meios nunca antes vistos nos teatros de operações e com custos insuportáveis para um País limitado em recursos pela crise financeira a que se assiste.
Os GIF desenvolvem comportamentos extremos fora da capacidade de extinção existente, sendo necessária a abordagem técnica de especialistas no planeamento das operações de combate.
Neste Verão foi possível constatar, mais uma vez, aquilo para o que muitos investigadores e especialistas têm vindo a alertar, e que dizia respeito aos menores períodos de retorno, recorrência e simultaneidade de GIF no território e cuja intensidade e comportamento do fogo excedem a capacidade de extinção dos meios de combate existentes.

À semelhança da realidade verificada noutros Países, existem em Portugal técnicos analistas cuja habilitação e competência se centra na análise do comportamento do fogo e na predição da sua evolução ao longo do tempo e do espaço, através da qual conseguem planear as operações de combate mais seguras, adequadas e eficazes para cada tipo de incêndio. Estes analistas de incêndios florestais possuem uma formação e experiência muito ampla, onde se inclui o estudo da meteorologia associada aos incêndios florestais, uma experiência consolidada na realização de fogo controlado assim como um extenso estudo e análise de casos reais de incêndios florestais.

A existência de um reduzido número de técnicos habilitados nesta área tem-se demonstrado insuficiente para possibilitar a existência da figura do técnico analista em incêndios florestais em todo o País, assim como se encontra impossibilitada a sua intervenção numa fase inicial do combate aos incêndios florestais, estando actualmente a sua actuação mais vocacionada para o uso do fogo supressão, designadamente através dos Grupos de Análise e Uso do Fogo.

No ano de 2005, com a definição do Sistema Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, foram criados os Gabinetes Técnicos Florestais cujas funções se centram no estudo e planeamento das mais variadas medidas com vista à Defesa da Floresta Contra Incêndios, desde a implementação de medidas preventivas até ao apoio ao combate, nos níveis municipal e supra-municipal.

O País encontra-se assim dotado de mais de 200 Gabinetes Técnicos Florestais nas Câmaras Municipais, cujos técnicos são o elemento chave na estratégia municipal e supra-municipal de Defesa da Floresta Contra Incêndios, conhecedores do território municipal, com uma experiência consolidada em incêndios florestais e em condições de poderem vir a ser habilitados para o desempenho das funções de analistas de incêndios florestais, e a quem se deve exigir a prestação de um imprescindível apoio aos Comandantes das Operações de Socorro no que toca ao processo de tomada de decisão no cenário da ocorrência de um GIF.
Existem mais de 200 Gabinetes Técnicos Florestais cujos técnicos poderão ser habilitados como analistas de incêndios florestais e a quem se deve exigir a análise para apoio ao combate dos incêndios florestais.
Neste sentido, e procurando dar resposta à lacuna verificada, os técnicos dos Gabinetes Técnicos Florestais do Distrito do Porto, em parceria com uma empresa espanhola de referência, Consultoría Natutecnia S.L., à qual se juntaram técnicos de outros Distritos (Viana do Castelo, Braga, Aveiro, Bragança, Vila Real, Coimbra, Guarda e Leiria), irão promover um Curso de Análise de Incêndios Florestais e Uso do Fogo de Supressão, o qual decorrerá a partir do próximo dia 25 de Setembro no Porto.

Com esta formação, devidamente reconhecida pela Autoridade Florestal Nacional para a credenciação em fogo de supressão, será dado o ponto de partida para que seja generalizada, numa escala regional e mesmo nacional, a disponibilidade de técnicos analistas de incêndios florestais para apoio aos Comandantes das Operações de Socorro ao nível da análise e do planeamento da extinção dos incêndios florestais.

Especialmente dirigida para os técnicos dos Gabinetes Técnicos Florestais, e com uma duração de 63 horas, a formação incidirá com maior relevância na análise meteorológica, na utilização de simuladores de comportamento do fogo, na análise e avaliação do comportamento do fogo, no planeamento da extinção e em protocolos de segurança, estando também contempladas sessões práticas com vista ao planeamento e execução do fogo de supressão e avaliação dos seus impactos.

Neste curso irá também ser abordada a análise de GIF ocorridos no território que, juntamente com a capacitação do ponto de vista operacional dos técnicos no combate aos incêndios florestais, irá permitir uma melhor planificação das acções de prevenção estrutural a implementar ao nível municipal e supra-municipal, concretizando assim uma estratégia de Defesa da Floresta Contra Incêndios mais efectiva.

Recuperação do Local Estratégico de Estacionamento


 Artigo de: Eduardo Afonso & Diana Exposto
SMPC/GTF de Valença

Recentemente a equipa de sapadores florestais fez intervenções de recuperação de um posto de vigia desativado  no lugar do Monte do Faro, é usado como Local Estratégico de Estacionamento, sendo considerado um ponto no território de ótimo posicionamento de unidades de primeira intervenção. Tem uma visibilidade sobre a área a Este, Norte e Sul do concelho.
Foram feitas limpezas no seu interior e corte de mato na sua área envolvente, para melhor servir a vigilância no concelho, em coordenação com o posto de vigia 25.01, situado no Perímetro florestal da Boalhosa a 782 metros de altitude.
A vigilância ativa dos espaços rurais visa contribuir para a redução do número de ocorrências de incêndios florestais e mostra-se cada vez mais importante nas ações de defesa da floresta contra incêndios. O nosso lema é, Portugal sem fogos depende de todos.

VALENÇA: PERSISTÊNCIA E MUITAS ÁRVORES!

 Artigo de: Eduardo Afonso & Diana Exposto
SMPC/GTF de Valença

A vontade sempre foi muita por parte de todos os que trabalham no Gabinete Técnico Florestal de Valença (dois técnicos e Equipa de Sapadores Florestais, com cinco elementos). A ideia partiu inicialmente na garantia de autonomia própria na criação e manutenção de árvores num horto florestal municipal.
Com existência de cerca de dois anos, o horto situa-se no estaleiro municipal da Câmara Municipal de Valença, conta com cerca de vinte mil árvores que se repartem por várias espécies, como, pinheiro bravo; pinheiro manso; medronheiro; Chamaeciparis; Catalpas bignonioides; carvalho americano; carvalho alvarinho; alfarrobeira; castanheiro da índia; liquidâmbar; Acer pseudoplatanus; azevinho; Cupressus; bétula; freixo; magnólia; camélia; cerejeira brava; pseudotsuga, ginkgo biloba; loureiro, entre outras.
Aposta-se nas espécies autóctones e sobretudo em ter várias e muitas espécies para posteriores trabalhos como, campanhas de sensibilização (Dia da Árvore), reflorestações e plantações nos baldios.
Já foram realizadas várias iniciativas com recurso a estas árvores, e no período de ações silvícolas sofrem substituições e manutenção por parte da equipa de sapadores florestais . Todo este trabalho deve-se sobretudo à força de vontade da equipa de sapadores que recolhem as sementes, fazem as sementeiras no horto e cuidam do mesmo retirando as gramíneas.
É um trabalho moroso mas que vale a pena, pois o resultado está à vista, chegando à época de plantar todas as árvores já têm o destino final, a terra repartida por várias freguesias do concelho. Trabalha-se para a criação de espaços florestais, trabalha-se com persistência para que hajam muitas árvores no concelho de Valença.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Auditoria. Despesas de funcionamento ficam com 80% do fundo florestal

 Por Ana Suspiro, publicado em 10 Set 2012

Desde 2009, que o fundo criado para apoiar reflorestação financia sapadores florestais e gabinetes técnicos florestais

Cerca de 80% dos subsídios atribuídos através do Fundo Florestal Permanente em 2011 destinaram-se a financiar despesas com carácter fixo, em particular despesas de funcionamento das equipas de sapadores florestais e dos gabinetes técnicos florestais.

Esta é uma das principais conclusões da auditoria financeira pedida pela ministra da Agricultura, Assunção Cristas, ao fundo florestal. O relatório da Inspecção-Geral da Agricultura e Pescas, que foi homologado em Março deste ano, avisa que esta situação tem vindo a acontecer, em particular desde o segundo trimestre de 2009, quando o fundo substituiu a Autoridade Florestal Nacional no financiamento dos sapadores florestais. O desvio de verbas para despesas administrativas era uma suspeita que já tinha sido levantada pelas associações de produtores florestais.

Os principais objectivos do fundo são a promoção de acções de ordenamento florestal, prevenção de incêndios e apoio à reflorestação, sendo a sua fonte de financiamento uma taxa criada sobre os combustíveis rodoviários. Mas perante a tendência de decréscimo da receita proveniente da ecotaxa e o elevado nível de rigidez da despesa financiada pelo fundo, “o cumprimento dos objectivos no seu todo fica condicionado, não sobrando verbas para financiar com significado acções em todas as áreas de intervenção previstas no decreto-lei 63/2004”, escreve o relatório que foi enviado no final de Maio ao Parlamento.

A auditoria recomenda ao executivo que equacione se as despesas de funcionamento das equipas de sapadores florestais e os gabinetes técnicos florestais devem continuar a ser suportadas pelo fundo, recomendação que foi confirmada pela ministra Assunção Cristas em Março deste ano. Mas não foi possível esclarecer junto do Ministério da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território que medidas foram entretanto tomadas.

Criado em 2004, o fundo florestal tinha como objectivos promover o ordenamento e gestão florestal, a prevenção de incêndios, a reflorestação, reestruturação de propriedades e investigação. A principal fonte de financiamento é a ecotaxa de meio cêntimo sobre os combustíveis até 30 milhões de euros por ano. Mas estavam previstas outras fontes, como o rendimento da exploração florestal de matas públicas, uma percentagem do valor de coimas, o produto de doações ou alienações ou cedência de património.

No entanto, na prática, a ecotaxa tem sido a única receita do fundo e está a encolher à medida que cai o consumo de combustíveis. Entre 2004 e 2010 o fundo recebeu cerca de 169 milhões de euros do imposto petrolífero, tendo executado despesas no mesmo período de 155,3 milhões de euros. Os subsídios pagos ascenderam a 131,9 milhões de euros. O fundo tem recebido em média 25 milhões de euros por ano, mas esses valores começaram a descer em 2010, para 23 milhões de euros. Em 2011 o valor provisório era de 21,5 milhões de euros.

Em 2009, o então secretário de Estado do Desenvolvimento determinou em despacho que o fundo deveria pagar uma verba anual de 28 mil euros a 278 municípios (2333 euros por mês) para financiar a constituição e funcionamento dos gabinetes técnicos florestais. No primeiro ano isto representou uma factura de 7,4 milhões de euros.

No mesmo ano, um despacho do ministro da Agricultura autorizou o financiamento, a título excepcional, dos encargos com as equipas de sapadores florestais através do fundo até ao montante de 4,4 milhões de euros. Esta decisão resultou dos constrangimentos orçamentais da Autoridade Florestal Nacional, segundo o mesmo despacho. A autoridade não procedeu à regularização deste financiamento até à data, sublinha o relatório.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Desagravamento da situação de seca meteorológica nas regiões Norte e Centro

O valor médio da quantidade de precipitação em Portugal Continental (14.4mm), em agosto, foi próximo do valor médio 1971-2000 (13.7mm). Os valores de precipitação mais elevados, registados no mês de Agosto, ocorreram essencialmente nos dias 14, 15 e 24 e em particular nas regiões do litoral Norte e Centro. Assim, o mês classifica-se na região Norte como chuvoso a extremamente chuvoso nas zonas próximas do litoral e normal nas zonas do interior; na região Centro o mês classifica-se como normal a chuvoso e na região Sul como normal a seco, exceto no sudoeste alentejano onde foi chuvoso.

Devido aos valores mais altos de precipitação que ocorreram nas zonas do litoral Norte e Centro, verificou-se no final de agosto um desagravamento da intensidade da situação de seca meteorológica nessas regiões. Assim no final do mês tem-se: 33% do território em seca extrema, 40% do território em seca severa, 13% em seca moderada, 13% em seca fraca e 1% na situação normal.

O mês de agosto, em Portugal Continental, registou um valor médio da temperatura máxima do ar (29.04ºC) superior ao valor normal 1971-2000 (+0.24ºC), e valores médios das temperaturas média (22.01ºC) e mínima (14.98ºC) do ar inferiores ao valor normal em -0.14ºC e -0.52ºC, respetivamente.
 
 
Fonte: IM, IP

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Combate aos Incêndios Florestais - O Caso da Galiza

Seguidamente, transcreve-se parte da Exposição do Caso da Galiza, do autor Tomás Fernández-Couto Juanas, então Director-Geral de Florestas e Indústrias Florestais, da Xunta de Galicia, publicada nas Actas do Seminário Internacional de Prevenção, Detecção e Combate de Fogos Florestais, organizado pela Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento no ano 2005, em Lisboa.
Este artigo pretende uma reflexão à actual política florestal e à organização do combate aos incêndios florestais, em virtude da semelhança da Galiza com Portugal. À medida que vamos lendo, vamos encontrar respostas às nossas questões, principalmente: o porquê de em Portugal arder tanto espaço florestal!?


Vamos dar início à nossa primeira sessão de trabalho, começando por ouvir uma exposição sobre o caso da Galiza. Como sabe a generalidade dos presentes, trata-se de um caso de sucesso. Quando se olha para o gráfico que reproduz a curva da área ardida em cada ano, surpreende-nos a sua queda súbita, em determinado momento. Foi quando entraram em acção os meios que hoje asseguram a protecção da floresta galega.
(…)
Como sabem, a Galiza é uma comunidade autónoma do Noroeste espanhol, relativamente pequena, com três milhões de hectares, mas com uma importância florestal elevada. Presentemente, dois milhões de hectares têm características florestais, e a superfície arborizada, embora entretanto tenha crescido, segundo o terceiro inventário florestal nacional é de cerca de 1 400 000 hectares.
(…)
Só para se ficar com uma ideia, acorremos em média a cerca de 10 mil fogos por ano. Houve até um ano em que tivemos 15 mil fogos. Nos períodos de Verão, com um vento de Nordeste forte, é provável que haja 15, 20 dias, 10 dias com 300 fogos, em média, por dia, o que quer dizer que há dias com 180 mas também os há com 400 fogos. Deste modo, a carga de trabalho é imensa, o que requer uma organização muito específica, pois há poucos lugares no mundo onde a concentração de incêndios se apresente tão elevada como na Galiza.
 

De todo o modo, há uma série de factores que de alguma maneira explicam que teremos sempre um problema estrutural, pois que a Galiza tem 4000 freguesias, que constituem, numa superfície tão pequena, metade dos núcleos populacionais de toda a Espanha, e o crescimento da biomassa é tremendo. Tem havido anos em que temos sido chamados a apagar outra vez no mês de Setembro zonas que tinham ardido nos meses de Março ou de Maio, o que quer dizer que, num mesmo ano, há que voltar a apagar fogos porque a vegetação cresceu.
 

E depois temos, evidentemente, uma pluviosidade muito alta, um clima em geral suave, mas com dois ou mais períodos muito fortes de seca. Temos uma seca importante no Verão, sobretudo na zona Sul, na província de Orense, mas depois temos também períodos de seca consideráveis por volta do fim do Inverno e na Primavera.
 

Este conjunto de situações, este confronto entre terreno urbano, terreno habitado e terreno florestal, por múltiplas causas, gera por si próprio incêndios. A regeneração da biomassa é imensa (podemos fazer por completo limpezas de mato num monte na Primavera, e, quando chegamos ao Verão, a erva pode ultrapassar a nossa cintura). De maneira que todas estas circunstâncias favorecem o aparecimento do fogo (por acidentes, pelas mais diversas causas), dificultando a sua extinção.
 

Como disse, no ano de 1990 a situação era realmente má na floresta galega, que estava desestruturada. As pessoas não “acreditavam” na floresta, os subsídios de ajuda florestal não sobravam, eram em quantidades relativamente pequenas e não cobriam a procura. A partir daí tomou-se uma decisão política importante, que constituiu uma prioridade real do Governo: a de enfrentar, de uma vez por todas, a questão dos incêndios florestais.
 

Surgiu então um sistema cujos princípios eram diferentes dos do anterior.
 

Por um lado, o princípio da luta contínua. Existem determinados níveis de desdobramento, dependendo da época, mas os serviços de incêndios funcionam, na Galiza, ao longo de todo o ano. Para que se faça uma ideia, desde o princípio deste ano (ou seja, nas últimas seis semanas) já acorremos a cerca de 200 incêndios, apesar de ter chovido bastante.
 

Por outro lado, fez-se um esforço considerável na profissionalização, potenciando todos os níveis, a saber: a prevenção, a detecção, a formação e a investigação, e, consequentemente, a extinção.
 

Também foi feito um esforço muito grande para assegurar um comando único. Na Galiza estamos quase militarizados no que diz respeito à extinção de incêndios, e a hierarquia é absoluta. Existe apenas um nível de decisão com diversos escalões.
 

Os Serviços de Extinção são estruturados a partir dos Serviços Florestais e, actualmente, a Conselharia do Meio Ambiente, através da Direcção‑Geral de Florestas, estrutura todos estes mecanismos. Não há decisões distintas, existe apenas a autoridade de um único Director-Geral, só há a autoridade de um Chefe Provincial, e só a autoridade de um Chefe Distrital em cada um dos 19 distritos da Galiza.
 

Criou-se ainda, no âmbito da Direcção-Geral de Florestas, a Subdirecção‑Geral de Defesa Contra Incêndios Florestais. Neste momento, a Direcção de Florestas tem duas subdirecções, uma de recursos florestais, que se dedica à política florestal e primeira transformação da madeira, e, digamos, a outra metade da Direcção-Geral, que se dedica de forma permanente à prevenção e extinção de incêndios florestais, com um nível de subdirecção-geral estruturado em quatro serviços provinciais.

Após a leitura de parte da exposição que poderá ler na íntegra no link abaixo, fica-nos a seguinte questão:
 

Desde 2004, o que mudou em Portugal em matéria de defesa da floresta contra incêndios?

A resposta é simples: Tudo mudou no sentido contrário ao exemplo galego. 

Um exemplo de sucesso divulgado e reconhecido pelas entidades com responsabilidades em matéria de politica florestal e de protecção civil presentes, em tão badalado Seminário Internacional! Mas parece ter servido de pouco o bom exemplo...

Postado por: Emanuel de Oliveira
SMPC/GTF de Vª Nª de Cerveira

sábado, 1 de setembro de 2012

Incêndios florestais, a cara amarga do verão

Artigo de Rosa Planelles, professora de Defesa da Floresta na Escuela Técnica Superior de Ingenieros de Montes da Universidad Politécnica de Madrid, sobre os incêndios que assolam a floresta espanhola.

24.07.12 Por ROSA PLANELLES.

Todos parecemos treinadores de futebol

Opinamos sobre os alinhamentos da nossa equipa nos jogos, as posições ocupadas pelos jogadores, as mudanças ou os momentos mais oportunos para fazê-las. Quando a equipa ganha, todos ganhamos mas quando perde, a culpa é do treinador… Quando ocorre um grande incêndio florestal a situação parece-me semelhante.

Parece que todos sabemos o que ocorreu ou o que deveria ter acontecido; ouvem-se frases como “houve falta de coordenação”, “não havia meios suficientes”, “os meios chegaram tarde”, “ardem os pinheiros”, “queima-se para edificar”, “o monte não estava limpo”, “falta de orçamento”… Opinamos, valorizamos, julgamos…excepto que, diante dos possíveis resultados no terreno futebolístico, no campo florestal nunca há vitórias, os incêndios são sempre batalhas perdidas. Uma vez iniciado um incêndio florestal, por ma´s rápido que se actue, por muito bem que se trabalhe, sempre há perdas (nas estatísticas não aparecem as vidas protegidas, as habitações defendidas ou os hectares que se conseguiram salvar).

O facto de acreditarmos de que todos podemos opinar sobre estes temas está em parte influenciado pelos meios de comunicação que dirigem os nossos pensamentos e opinião que aportam certos dados que cremos que nos habilitam para opinar como veemência como se soubéssemos do que estamos a falar, como se fosse fácil dar soluções a problemas tão complexos, para os quais existem muitas pessoas, profissionais de várias áreas, a trabalhar desde há muito tempo, esforçando-se por continuar a melhorar nas suas respectivas responsabilidades, arriscando inclusive as suas vidas quando trabalham na frente de chamas.

Obviamente, em ambas situações há uma (entre muitas outras) diferença fundamental. O futebol, apesar de que para muitos é um trabalho e a sua fonte de receitas, para a maioria é um entretenimento, uma via de escape, ócio e de gozo em definitivo, enquanto que os incêndios, os grandes incêndios em especial (definidos como aqueles que afectam superfícies maiores a 500 hectares; em Portugal superior a 100 hectares), são uma tragédia que ainda que nos toque a todos da mesma forma, queiramos ou não, afecta-nos a todos. Assim, constata-se que quando se fazem inquéritos sobre quais sãos os principais problemas ambientais que afectam o nosso território: a maioria dos espanhóis identifica os incêndios como um dos mais importantes (Relatório Greenpeace, 2008).

Os devastadores efeitos das chamas

Porquê? Quais são os efeitos que provocam os grandes incêndios? A resposta estará ligada à escala a que decidimos avaliar esses efeitos, uma escala tanto espacial como temporal: não são comparáveis os efeitos de incêndios de poucas dezenas de hectares numa área protegida, com incêndios de milhares de hectares, ou incêndios recorrentes numa vegetação que não teve tempo de recuperar. A casuística é muito variada, de tal forma que, simplificando muito, os incêndios florestais produzem efeitos sobre as pessoas, directos (dezenas de mortos e feridos) e indirectos, assim como enormes perdas económicas imediatas (para os proprietários de bens afectados, sejam particulares ou a Administração pública) por perda de muitos produtos (madeira, frutos, caça, cortiça, cogumelos, resina, caruma e etc.). Também danos ambientais “intangíveis”: redução da qualidade do ar, emissão do CO2 e contribuição para o efeito estufa, perda de controlo e defesa contra enxurradas e secas (aumento da erosão), degradação da paisagem (muito relacionado com o ócio e o recreio), etc., além do grande alarme social (lamentavelmente na maioria dos casos, transitório).

Se os efeitos são tantos e tão importantes como poderíamos antecipar-nos e prever os incêndios florestais? Para esclarecer esta questão devíamos responder antes a outra questão: o que é necessário para que ocorra um incêndio florestal?

Os elementos imprescindíveis para que ocorra um incêndio florestal podem ser representados graficamente com um triângulo cujos lados são: combustível, oxigénio e fonte de calor. O combustível, matéria vegetal, está disponível no nosso território cada vez mais em maior proporção devido a causas estruturais (fundamentalmente pelo abandono das práticas tradicionais na floresta associada ao despovoamento de grandes áreas). O oxigénio está sempre presente. Estudando o terceiro lado, a fonte de energia, entra a investigação de causas dos incêndios, já que na presença de oxigénio e do combustível disponível para arder é necessária alguma fonte de calor para iniciar a combustão.

Um fenómeno difícil de eliminar

Segundo mostram as estatísticas que aportam ao Ministério de Agricultura, Alimentação e Meio Ambiente de Espanha, em todas as Comunidades Autónomas (que são as Administrações competentes nesta matéria), mais de 95% dos incêndios originam-se por causas antrópicas, causas que se classificam em intencionais ou por negligência e acidentes. Logo, é às pessoas a quem há que dirigir os esforços de informação, consciencialização e conciliação, sem esquecer a sanção (administrativa ou por via penal) como ferramentas preventivas. Conhecendo em detalhe os problemas de cada zona e de cada comunidade em concreto, trabalhando continuamente pode-se fazer muito para avançar na prevenção.

Assim evitaremos incêndios? Não. Os incêndios estão longe de ser um fenómeno que possamos eliminar. Vivemos num ambiente mediterrânico, desde sempre conviveu-se com o fogo e assim se seguirá , pois o fogo tem ajudado a modelar a paisagem e as espécies que habitam na nossa floresta e é uma ferramenta que podemos e devemos de seguir usando ordenadamente, incorporando os conhecimentos técnicos e científicos que fazem do fogo uma técnica de gestão de combustível para dirigir essa gestão de forma adequada, para que quando se produzam situações meteorológicas adversas (a conhecida Regra do 30: mais de 30 ºC de temperatura, humidade relativa inferior a 30%, velocidade do vento superior a 30 km/h e mais de 30 dias sem chuva ou de seca acumulada) possa-se reduzir o risco de ocorrência de um grande incêndio florestal.

Incido nos grandes incêndios florestais. Escrevo sobre eles neste mês de julho, época estival, a de maior risco em quase toda a Espanha, mas devemos abrir o foco de visão: incêndios florestais há no nosso país durante todo o ano. A intervenção rápida dos meios de extinção existentes faz com que mais de 70% dos quase 15 000 incêndios que se contabilizam anualmente como valor médio na última década fiquem no que se considerou conveniente chamar de fogacho, isto é, incêndios menores de 1 ha. Cerca de 25 a 30 incêndios convertem-se anualmente em grandes incêndios. A problemática desta situação vê-se agravada quando estes grandes incêndios afectam zonas de interface urbano-florestal, isto é, zonas de vegetação misturadas com habitações ou aglomerados rurais, em íntimo contacto, situação cada vez mais habitual e de grande complexidade no seu tratamento.

Falar de incêndios florestais como um fenómeno isolado que precisa de tratamento em si mesmo, que o é, seria focar o tema de modo parcial. Na minha opinião, deve-se demarcar a defesa da floresta contra incêndios na planificação territorial e, mais concretamente, na gestão florestal. Um adequado conceito de gestão florestal integral seguindo os princípios de multifuncionalidade do monte, ligada estreitamente à conservação da biodiversidade permitirá planificar a gestão do combustível com uma ampla perspectiva: gestão da biomassa para a produção de energia renovável, prática de silvopastorícia, tratamento silvícolas, aproveitamento sustentável de madeira e outros produtos, todas estas actividades são geradoras de emprego e portanto, capazes de fixar a população no meio rural.

Consenso entre técnicos e investigadores

Particularmente penso que se está a avançar muito neste tema, que existe bastante consenso entre os técnicos e os investigadores inclusive a nível internacional, mas que falha. Em primeiro lugar, a conexão destes profissionais com a politica, caracterizada por uma visão geral de curto prazo que busca o imediato nas medidas para um retorno instantâneo. Ambos ritmos (o politico e o natural) não encaixam: a floresta necessita de tempo para instalar-se, desenvolver-se e garantir a sua persistência. A planificação da gestão (e com ela os respectivos orçamentos) deve consolidar as linhas iniciadas, mantendo-as junto com os recursos necessários, para além do símbolo politico governante ou do prazo de quatro anos que dura a legislatura.

O outro aspecto claramente melhorável é a comunicação dos profissionais implicados na defesa contra os incêndios florestais com o conjunto da sociedade. Transmitir adequadamente o que se está a fazer, tratando de informar com veracidade e rigor, aproximando esta realidade a todos que como disse, estamos implicados neste tema, é parte essencial da solução do problema.

A todos os níveis, entre os que entendo que a Universidade tem um importante papel, como responsável da formação dos futuros técnicos que serão os próximos gestores territoriais, investigadores, professores…que deverão continuar com o trabalho iniciado, incorporando os avanços que se vão produzindo num cenário geral de mudança climática que previsivelmente favorecerá a ocorrência de incêndios florestais no âmbito territorial mediterrânico. Neste sentido, eu com estas linhas apenas pretendi dar umas pinceladas sobre certos aspectos gerais deste complexo mundo ao redor dos incêndios florestais.


ARTIGO ORIGINAL


Traduzido por: Emanuel de Oliveira
SMPC/GTF de Vª Nª de Cerveira

terça-feira, 28 de agosto de 2012

ANÁLISE AO GIF DE LA JONQUERA

 Postado por: Emanuel de Oliveira
SMPC/GTF de Vª Nª de Cerveira

Caros Seguidores deste blogue, face à discussão e ao celeuma dos já vários relatórios sobre o GIF de Tavira e de S. Brás de Alportel, deixo aqui um documento elaborado pelo GRAF dos Bombeiros da Catalunha que descreve e analisa o desenvolvimento do GIF de La Jonquera, ocorrido em 22 de Julho de 2012, na província de Girona (Comarca Catalã do Alto Ampurdá) que para além de ter queimado uma área de 13 088 hectares, provocou 18 feridos e causou a morte de 4 pessoas.
Como técnicos e como combatentes, este documento constitui um exemplo a seguir, para que todos tenhamos a oportunidade de compreender um determinado incêndio, analisar e avaliar o comportamento do fogo, definir estratégias e optar por tácticas adequadas, ou seja, aprender.

Veja-se aqui a prova da necessidade de em Portugal proceder-se à documentação técnica e análise de um incêndio, em vez de massudos relatórios de meios que conduzem a situações inconclusivas baseados em fitas de tempo. Isto não significa que não façam falta! O certo é que com relatórios de meios de combate não conseguimos encontrar o caminho para evitar que um GIF volte a repetir-se. Não são os relatórios de meios que nos definem os pontos críticos, os pontos de inflexão, a etiqueta horária, os picos de inflamabilidade, a capacidade de extinção, as corridas de um incêndio, etc e etc.

Olhar um incêndio tecnicamente não tem como objectivo julgar procedimentos ou buscar responsáveis pelas actuações, pois esses já se encontram definidos no SIOPS.
Olhar um incêndio tecnicamente tem como objectivo evitar que a mesma situação se repita, promovendo a gestão de pontos estratégicos, reduzindo a influência dos pontos críticos, promover oportunidades de combate pela gestão florestal defensiva e apoiar tecnicamente a decisão de quem tem a dura responsabilidade do combate e o peso das vidas dos combatentes envolvidos num incêndio.


Deixemos então de mais palavras e atentem por favor ao trabalho que seguidamente se apresenta e que com certeza permitirá um melhor entendimento ao que até agora foi referido. O documento encontra-se para já em catalão (podem utilizar o Google Tradutor) e note-se que foi recentemente publicado num curto prazo pós-ocorrência (precisamente 1 mês depois). Igualmente, deixo aqui um link de um exemplo de um artigo jornalístico que a nossa imprensa deveria de seguir, onde se destacam conceitos técnicos sobre este incêndio (convém ler): Cuatro muertos por los incendios «absolutamente descontrolados» de Gerona

GRAF - Grupo de Actuação Florestal-Unidade Técnica dos Bombeiros da Catalunha, constituída em 1999.

A luta contra os incêndios florestais: uma verdade inconveniente?

Seguidamente, colocamos aqui um artigo de Marc Palahí Lozano, publicado no site do European Forest Institute, o qual teve-se o cuidado de traduzir para português, na esperança de não lhe retirar qualquer sentido técnico e de poder alcançar o máximo de interessados que se preocupam pela defesa da floresta contra incêndios. Em curtas linhas e com elevada clareza, o artigo chama a atenção para questões tão importantes como os custos do combate, a problemática da gestão florestal, o paradoxo do fogo, a educação da sociedade na prevenção e a importância de um jornalismo mais informado e apoiado tecnicamente para divulgar e comentar um incêndio florestal (se é possível e necessário em jogos de futebol quanto mais em incêndios florestais, onde ano após ano, combatentes arriscam a vida para salvar um património de todos e onde famílias vêem os seus bens a serem destruídos pelas chamas).


Foto: Bombers, Generalitat de Catalunya.
Estima-se que a França, Grécia, Itália, Espanha e Portugal gastam um total de 2.500 milhões de euros anuais no combate aos incêndios florestais. Desse montante, mais de 60% são destinados para cobrir os custos relacionados com a supressão dos incêndios, enquanto que apenas 40% é investido em atividades direcionadas para a prevenção (muitas das quais estão também relacionadas com atividades para o combate aos incêndios: a criação de pontos de água; aceiros; etc.). Pouco resta para a gestão dos combustíveis florestais (considerando que a floresta cobre cerca de 30% do território nesses países) o que implicaria, a longo prazo, medidas preventivas que abordam a raiz do problema (a falta de gestão para reduzir a quantidade de biomassa, devido à baixa rentabilidade).
Este ano vimos que no combate aos incêndios, só se pode gerir uma pequena parte da intensidade potencial de um incêndio florestal quando é impulsionado pelas condições meteorológicas extremas e se propaga para uma área com uma elevada percentagem de combustíveis inflamáveis (florestas).


Sendo assim, as políticas para a extinção de incêndios que não se combinam com a gestão da vegetação para reduzir os combustíveis e criar manchas de interrupção de combustível, apenas servem, a médio prazo, para aumentar o risco de Grandes Incêndios Florestais (e catastróficos) (que são responsáveis por 80% das superfícies queimadas, enquanto que apenas 2% constituem incêndios florestais), tais como os que ocorreram este ano em Espanha. Isto é conhecido como o paradoxo do fogo, e foi exemplificado anteriormente na Catalunha após o período de 1986-1993, que foi seguido pelos grandes incêndios de 1994 e 1998, na Galiza após 1994-2005 e na Grécia após 2001-2006.

O que é surpreendente é que, atualmente, tanto a comunidade científica e a sociedade em geral concordam que a longo prazo, a prevenção e educação (e comunicação) devem ser os principais métodos para a resolução do problema dos incêndios florestais (um estudo internacional recente revelou que 80% dos catalães considera que a prevenção e a educação deve ser fundamental para uma política eficiente na luta contra aos incêndios florestais). No entanto, esta opinião generalizada sobre a importância da prevenção versus supressão não se reflete na maioria das políticas adotadas nos países mediterrânicos, enquanto testemunhamos na mídia que o debate foca a falta de meios aéreos e a falta da coordenação dos combatentes.

ARTIGO ORIGINAL

Traduzido por: Emanuel de Oliveira
SMPC/GTF de Vª Nª de Cerveira

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Relatório de Incêndios ou Julgamentos Públicos

  Postado por: Emanuel Oliveira
SMPC/GTF de Vª Nª de Cerveira

Artigo de Opinião


Recentemente foram publicados dois relatórios do Grande Incêndio Florestal de Tavira e de S. Brás de Alportel que teve início em 18 de Julho de 2012 e em apenas 4 dias, dizimou uma área de cerca de 26 500 hectares. Diversas vozes levantam-se hoje questionando quanto ao rigor técnico e imparcialidade dos relatórios elaborados pela Autoridade Nacional da Protecção Civil e pela Liga de Bombeiros Portugueses. Tais comentários confundem-se muitas vezes com desejos obsessivos de julgamentos públicos e de tentativas de “corte de cabeças”, assemelham-se a autênticos treinadores de bancada num jogo de futebol.
Se quisermos ser objectivos, imbuídos de um espirito crítico construtivo e arbitrário, então podemos e devemos analisar cada incêndio a partir de diversos pontos de vista e não concentrarmo-nos exclusivamente no combate. Sendo assim, proponho uma reflexão nas seguintes vertentes que envolvem o incêndio, fazendo um “check list” à semelhança do procedimento dos EUA:

Planeamento Florestal em matéria de DFCI: neste campo, devemos identificar se foram realizadas as acções de defesa estrutural, tais como, as faixas de gestão de combustível, a gestão de pontos estratégicos ou críticos, execução ou manutenção da rede de pontos de água, beneficiação ou execução da rede viária florestal, a criação de mosaicos de combustível, etc..

Planificação da Vigilância Contra Incêndios: neste campo importa identificar se as equipas de vigilância encontravam-se nos locais estratégicos de estacionamento (LEE’s), se procediam a vigilância móvel ou fixa, se a vigilância estava ou não planificada de acordo com o risco de incêndio, tendo em consideração o risco diário de incêndio para a zona em causa (com particular importância para os componentes do Sistema FWI: FFMC, ISI, BUI e FWI), as curvas de flamabilidade de Campbell (CPSL), o número de ocorrências registadas e o uso tradicional do fogo.

Coordenação e Operacionalidade do Combate: por último, neste campo, poderíamos colocar todo o conjunto de recomendações estabelecidas no relatório “Avaliação do Desempenho do Ataque Ampliado a Incêndios Florestais”, publicado em 2008, com base num protocolo da UTAD com a ANPC.

Com isto quero dizer que não há nada a inventar, pois tudo já foi amplamente estudado, identificado, analisado, discutido e redactado, resultante de situações vividas no passado, quer em Portugal quer nos outros países do mundo. Apenas, temos que apelar à objectividade e identificar se se procedeu ou não, quando se procedeu e como se procedeu.

Na análise aos incêndios florestais devemos de proceder de modo semelhante àquilo que a estrutura de combate a incêndios florestais dos EUA elabora na Organização das Operações de Extinção e que denomina de ”Incident Command System”, onde criteriosamente de forma objectiva são identificadas as acções e a missão de cada equipa, de cada elemento presente no Teatro de Operações e em caso de incidente ou acidente permitir identificar a falha. Em Portugal também existe este sistema e, o qual, está devidamente identificado na Directiva Operacional Nacional nº 2 – Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais, pelo que em conjunto com as recomendações definidas no relatório de 2008 (supracitado), bastaria identificar onde poderá ter falhado o combate:
  • Terá sido na interpretação do comportamento do fogo e da meteorologia de incêndio?
  • Terá sido na utilização dos meios e no modo como os meios foram empregues?
  • Terá sido na monitorização e coordenação do incêndio?
  • Terá sido falhas no uso de equipamentos ou até na sua ausência?
  • Terá sido na falta de recursos humanos capacitados em análise de incêndios para auxiliar o COS desde o início do incêndio?

Como se pode ver, surgem diversas questões apenas referentes às operações de combate, mas temos que analisar o que está para trás, para o que antecede à ocorrência, isto é, todo o trabalho que diz respeito à prevenção quer estrutural quer à vigilância, pelo que se poderia igualmente identificar possíveis falhas.
Analisar um incêndio destas características implica, como em qualquer análise, partir do geral para o particular. De modo algum devemos de apontar uma falha, sem previamente analisarmos o conjunto de elementos que constituem o ambiente onde se deu o incêndio.

Qualquer incêndio deve merecer uma atenção de forma semelhante e comparativa à avaliação do socorrista que atende uma vítima, primeiro identifica os sinais que lhe permitam proceder devidamente ao socorro, sem trazer maiores lesões à vítima. De igual modo deve-se proceder ao combate ao incêndio florestal e neste caso concreto, à sua análise. Lembrando ainda que as análises e os relatórios de nada valem se não se procederem às recomendações e correcções para que situações semelhantes não voltem a repetir-se ciclicamente.

Recordo que as análises e relatórios são úteis e devem obrigatoriamente ser realizados, não só relativamente ao GIF de Tavira e de S. Brás de Alportel, mas também aos GIF’s da Madeira e a outros incêndios que dizimaram vastas áreas de floresta e destruíram diversas habitações e equipamentos, mas também aquelas ocorrências que sendo menores levaram à perda do mais importante - de vidas dos nossos combatentes - e esses na maioria dos casos caem no esquecimento e ninguém procede a avaliar e a colocar em público a causa do acidente.

Exemplo de Check List para Avaliar o Combate

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Relatórios do GIF de Tavira

  Postado por: Emanuel Oliveira
SMPC/GTF de Vª Nª de Cerveira

Seguidamente poderá consultar as duas versões de Relatório sobre o Grande Incêndio Florestal de Tavira que teve início em 18 de Julho de 2012 e que dizimou uma área de cerca de 26 500 hectares em apenas 4 dias. Para ter uma ideia do que aconteceu, disponibilizamos os relatórios da Autoridade Nacional da Protecção Civil e da Liga de Bombeiros Portugueses.

Relatório da ANPC

Relatório da LBP  

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

CET DEFESA DA FLORESTA CONTRA INCÊNDIOS

Inscrições abertas até 31 de Agosto

A Escola Superior Agrária de Coimbra abriu inscrições para um Curso de Especialização Tecnológica em Defesa da Floresta Contra Incêndios. Salientamos que os cursos promovidos pela ESAC têm obtido o reconhecimento da Autoridade Florestal Nacional em matéria de Fogo Controlado.

O CET em DFCI surge no sentido de colmatar a lacuna actualmente existente ao nível da formação técnica operacional na área de Defesa da Floresta Contra Incêndios.

O Curso confere competências para a coordenação e execução de operações no domínio da Defesa da Floresta Contra Incêndios relacionadas com: a prevenção, a pré-supressão, a primeira intervenção, o combate alargado, o rescaldo e a gestão pós-fogo. Apesar de centrado nas questões da DFCI, o curso também confere competências em todas as áreas de trabalho na floresta, incluindo a regeneração, a condução e a exploração florestal. É objectivo do curso dotar os formandos com capacidades que actualmente se encontram dispersas por várias entidades e organismos (AFN, ANPC, GNR, ICNB) tornando-os praticamente auto-suficientes em termos de DFCI ao nível da unidade de gestão florestal onde trabalham. Para tal os formandos irão contar com a colaboração de formadores provenientes de diferentes entidades que aceitaram colaborar com a ESAC na leccionação deste CET. Muito embora o local de formação esteja centralizado na ESAC, os formandos terão formação noutros locais do país. Uma componente fundamental da formação será constituída por um período de 500 horas em contexto de trabalho, durante o Verão, no qual os formandos deverão ser confrontados com situações reais de incêndio florestal.

O Curso é composto por Unidades de Formação (UF) com estrutura modular. Cada UF decorre normalmente às quintas, sextas e sábados (UF’s de 24 horas) ou às quartas, quintas, sextas e sábados (UF’s com duração superior).

SABE MAIS AQUI: ESAC

Quaisquer informações adicionais poderão ser solicitadas através dos seguintes contactos:David Rodrigues * TELEF: +351 239 802 940 / 239 802 285 * E-MAIL: drodrigues@esac.pt 

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