quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Combate aos Incêndios Florestais - O Caso da Galiza

Seguidamente, transcreve-se parte da Exposição do Caso da Galiza, do autor Tomás Fernández-Couto Juanas, então Director-Geral de Florestas e Indústrias Florestais, da Xunta de Galicia, publicada nas Actas do Seminário Internacional de Prevenção, Detecção e Combate de Fogos Florestais, organizado pela Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento no ano 2005, em Lisboa.
Este artigo pretende uma reflexão à actual política florestal e à organização do combate aos incêndios florestais, em virtude da semelhança da Galiza com Portugal. À medida que vamos lendo, vamos encontrar respostas às nossas questões, principalmente: o porquê de em Portugal arder tanto espaço florestal!?


Vamos dar início à nossa primeira sessão de trabalho, começando por ouvir uma exposição sobre o caso da Galiza. Como sabe a generalidade dos presentes, trata-se de um caso de sucesso. Quando se olha para o gráfico que reproduz a curva da área ardida em cada ano, surpreende-nos a sua queda súbita, em determinado momento. Foi quando entraram em acção os meios que hoje asseguram a protecção da floresta galega.
(…)
Como sabem, a Galiza é uma comunidade autónoma do Noroeste espanhol, relativamente pequena, com três milhões de hectares, mas com uma importância florestal elevada. Presentemente, dois milhões de hectares têm características florestais, e a superfície arborizada, embora entretanto tenha crescido, segundo o terceiro inventário florestal nacional é de cerca de 1 400 000 hectares.
(…)
Só para se ficar com uma ideia, acorremos em média a cerca de 10 mil fogos por ano. Houve até um ano em que tivemos 15 mil fogos. Nos períodos de Verão, com um vento de Nordeste forte, é provável que haja 15, 20 dias, 10 dias com 300 fogos, em média, por dia, o que quer dizer que há dias com 180 mas também os há com 400 fogos. Deste modo, a carga de trabalho é imensa, o que requer uma organização muito específica, pois há poucos lugares no mundo onde a concentração de incêndios se apresente tão elevada como na Galiza.
 

De todo o modo, há uma série de factores que de alguma maneira explicam que teremos sempre um problema estrutural, pois que a Galiza tem 4000 freguesias, que constituem, numa superfície tão pequena, metade dos núcleos populacionais de toda a Espanha, e o crescimento da biomassa é tremendo. Tem havido anos em que temos sido chamados a apagar outra vez no mês de Setembro zonas que tinham ardido nos meses de Março ou de Maio, o que quer dizer que, num mesmo ano, há que voltar a apagar fogos porque a vegetação cresceu.
 

E depois temos, evidentemente, uma pluviosidade muito alta, um clima em geral suave, mas com dois ou mais períodos muito fortes de seca. Temos uma seca importante no Verão, sobretudo na zona Sul, na província de Orense, mas depois temos também períodos de seca consideráveis por volta do fim do Inverno e na Primavera.
 

Este conjunto de situações, este confronto entre terreno urbano, terreno habitado e terreno florestal, por múltiplas causas, gera por si próprio incêndios. A regeneração da biomassa é imensa (podemos fazer por completo limpezas de mato num monte na Primavera, e, quando chegamos ao Verão, a erva pode ultrapassar a nossa cintura). De maneira que todas estas circunstâncias favorecem o aparecimento do fogo (por acidentes, pelas mais diversas causas), dificultando a sua extinção.
 

Como disse, no ano de 1990 a situação era realmente má na floresta galega, que estava desestruturada. As pessoas não “acreditavam” na floresta, os subsídios de ajuda florestal não sobravam, eram em quantidades relativamente pequenas e não cobriam a procura. A partir daí tomou-se uma decisão política importante, que constituiu uma prioridade real do Governo: a de enfrentar, de uma vez por todas, a questão dos incêndios florestais.
 

Surgiu então um sistema cujos princípios eram diferentes dos do anterior.
 

Por um lado, o princípio da luta contínua. Existem determinados níveis de desdobramento, dependendo da época, mas os serviços de incêndios funcionam, na Galiza, ao longo de todo o ano. Para que se faça uma ideia, desde o princípio deste ano (ou seja, nas últimas seis semanas) já acorremos a cerca de 200 incêndios, apesar de ter chovido bastante.
 

Por outro lado, fez-se um esforço considerável na profissionalização, potenciando todos os níveis, a saber: a prevenção, a detecção, a formação e a investigação, e, consequentemente, a extinção.
 

Também foi feito um esforço muito grande para assegurar um comando único. Na Galiza estamos quase militarizados no que diz respeito à extinção de incêndios, e a hierarquia é absoluta. Existe apenas um nível de decisão com diversos escalões.
 

Os Serviços de Extinção são estruturados a partir dos Serviços Florestais e, actualmente, a Conselharia do Meio Ambiente, através da Direcção‑Geral de Florestas, estrutura todos estes mecanismos. Não há decisões distintas, existe apenas a autoridade de um único Director-Geral, só há a autoridade de um Chefe Provincial, e só a autoridade de um Chefe Distrital em cada um dos 19 distritos da Galiza.
 

Criou-se ainda, no âmbito da Direcção-Geral de Florestas, a Subdirecção‑Geral de Defesa Contra Incêndios Florestais. Neste momento, a Direcção de Florestas tem duas subdirecções, uma de recursos florestais, que se dedica à política florestal e primeira transformação da madeira, e, digamos, a outra metade da Direcção-Geral, que se dedica de forma permanente à prevenção e extinção de incêndios florestais, com um nível de subdirecção-geral estruturado em quatro serviços provinciais.

Após a leitura de parte da exposição que poderá ler na íntegra no link abaixo, fica-nos a seguinte questão:
 

Desde 2004, o que mudou em Portugal em matéria de defesa da floresta contra incêndios?

A resposta é simples: Tudo mudou no sentido contrário ao exemplo galego. 

Um exemplo de sucesso divulgado e reconhecido pelas entidades com responsabilidades em matéria de politica florestal e de protecção civil presentes, em tão badalado Seminário Internacional! Mas parece ter servido de pouco o bom exemplo...

Postado por: Emanuel de Oliveira
SMPC/GTF de Vª Nª de Cerveira

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