terça-feira, 28 de agosto de 2012

ANÁLISE AO GIF DE LA JONQUERA

 Postado por: Emanuel de Oliveira
SMPC/GTF de Vª Nª de Cerveira

Caros Seguidores deste blogue, face à discussão e ao celeuma dos já vários relatórios sobre o GIF de Tavira e de S. Brás de Alportel, deixo aqui um documento elaborado pelo GRAF dos Bombeiros da Catalunha que descreve e analisa o desenvolvimento do GIF de La Jonquera, ocorrido em 22 de Julho de 2012, na província de Girona (Comarca Catalã do Alto Ampurdá) que para além de ter queimado uma área de 13 088 hectares, provocou 18 feridos e causou a morte de 4 pessoas.
Como técnicos e como combatentes, este documento constitui um exemplo a seguir, para que todos tenhamos a oportunidade de compreender um determinado incêndio, analisar e avaliar o comportamento do fogo, definir estratégias e optar por tácticas adequadas, ou seja, aprender.

Veja-se aqui a prova da necessidade de em Portugal proceder-se à documentação técnica e análise de um incêndio, em vez de massudos relatórios de meios que conduzem a situações inconclusivas baseados em fitas de tempo. Isto não significa que não façam falta! O certo é que com relatórios de meios de combate não conseguimos encontrar o caminho para evitar que um GIF volte a repetir-se. Não são os relatórios de meios que nos definem os pontos críticos, os pontos de inflexão, a etiqueta horária, os picos de inflamabilidade, a capacidade de extinção, as corridas de um incêndio, etc e etc.

Olhar um incêndio tecnicamente não tem como objectivo julgar procedimentos ou buscar responsáveis pelas actuações, pois esses já se encontram definidos no SIOPS.
Olhar um incêndio tecnicamente tem como objectivo evitar que a mesma situação se repita, promovendo a gestão de pontos estratégicos, reduzindo a influência dos pontos críticos, promover oportunidades de combate pela gestão florestal defensiva e apoiar tecnicamente a decisão de quem tem a dura responsabilidade do combate e o peso das vidas dos combatentes envolvidos num incêndio.


Deixemos então de mais palavras e atentem por favor ao trabalho que seguidamente se apresenta e que com certeza permitirá um melhor entendimento ao que até agora foi referido. O documento encontra-se para já em catalão (podem utilizar o Google Tradutor) e note-se que foi recentemente publicado num curto prazo pós-ocorrência (precisamente 1 mês depois). Igualmente, deixo aqui um link de um exemplo de um artigo jornalístico que a nossa imprensa deveria de seguir, onde se destacam conceitos técnicos sobre este incêndio (convém ler): Cuatro muertos por los incendios «absolutamente descontrolados» de Gerona

GRAF - Grupo de Actuação Florestal-Unidade Técnica dos Bombeiros da Catalunha, constituída em 1999.

A luta contra os incêndios florestais: uma verdade inconveniente?

Seguidamente, colocamos aqui um artigo de Marc Palahí Lozano, publicado no site do European Forest Institute, o qual teve-se o cuidado de traduzir para português, na esperança de não lhe retirar qualquer sentido técnico e de poder alcançar o máximo de interessados que se preocupam pela defesa da floresta contra incêndios. Em curtas linhas e com elevada clareza, o artigo chama a atenção para questões tão importantes como os custos do combate, a problemática da gestão florestal, o paradoxo do fogo, a educação da sociedade na prevenção e a importância de um jornalismo mais informado e apoiado tecnicamente para divulgar e comentar um incêndio florestal (se é possível e necessário em jogos de futebol quanto mais em incêndios florestais, onde ano após ano, combatentes arriscam a vida para salvar um património de todos e onde famílias vêem os seus bens a serem destruídos pelas chamas).


Foto: Bombers, Generalitat de Catalunya.
Estima-se que a França, Grécia, Itália, Espanha e Portugal gastam um total de 2.500 milhões de euros anuais no combate aos incêndios florestais. Desse montante, mais de 60% são destinados para cobrir os custos relacionados com a supressão dos incêndios, enquanto que apenas 40% é investido em atividades direcionadas para a prevenção (muitas das quais estão também relacionadas com atividades para o combate aos incêndios: a criação de pontos de água; aceiros; etc.). Pouco resta para a gestão dos combustíveis florestais (considerando que a floresta cobre cerca de 30% do território nesses países) o que implicaria, a longo prazo, medidas preventivas que abordam a raiz do problema (a falta de gestão para reduzir a quantidade de biomassa, devido à baixa rentabilidade).
Este ano vimos que no combate aos incêndios, só se pode gerir uma pequena parte da intensidade potencial de um incêndio florestal quando é impulsionado pelas condições meteorológicas extremas e se propaga para uma área com uma elevada percentagem de combustíveis inflamáveis (florestas).


Sendo assim, as políticas para a extinção de incêndios que não se combinam com a gestão da vegetação para reduzir os combustíveis e criar manchas de interrupção de combustível, apenas servem, a médio prazo, para aumentar o risco de Grandes Incêndios Florestais (e catastróficos) (que são responsáveis por 80% das superfícies queimadas, enquanto que apenas 2% constituem incêndios florestais), tais como os que ocorreram este ano em Espanha. Isto é conhecido como o paradoxo do fogo, e foi exemplificado anteriormente na Catalunha após o período de 1986-1993, que foi seguido pelos grandes incêndios de 1994 e 1998, na Galiza após 1994-2005 e na Grécia após 2001-2006.

O que é surpreendente é que, atualmente, tanto a comunidade científica e a sociedade em geral concordam que a longo prazo, a prevenção e educação (e comunicação) devem ser os principais métodos para a resolução do problema dos incêndios florestais (um estudo internacional recente revelou que 80% dos catalães considera que a prevenção e a educação deve ser fundamental para uma política eficiente na luta contra aos incêndios florestais). No entanto, esta opinião generalizada sobre a importância da prevenção versus supressão não se reflete na maioria das políticas adotadas nos países mediterrânicos, enquanto testemunhamos na mídia que o debate foca a falta de meios aéreos e a falta da coordenação dos combatentes.

ARTIGO ORIGINAL

Traduzido por: Emanuel de Oliveira
SMPC/GTF de Vª Nª de Cerveira

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Relatório de Incêndios ou Julgamentos Públicos

  Postado por: Emanuel Oliveira
SMPC/GTF de Vª Nª de Cerveira

Artigo de Opinião


Recentemente foram publicados dois relatórios do Grande Incêndio Florestal de Tavira e de S. Brás de Alportel que teve início em 18 de Julho de 2012 e em apenas 4 dias, dizimou uma área de cerca de 26 500 hectares. Diversas vozes levantam-se hoje questionando quanto ao rigor técnico e imparcialidade dos relatórios elaborados pela Autoridade Nacional da Protecção Civil e pela Liga de Bombeiros Portugueses. Tais comentários confundem-se muitas vezes com desejos obsessivos de julgamentos públicos e de tentativas de “corte de cabeças”, assemelham-se a autênticos treinadores de bancada num jogo de futebol.
Se quisermos ser objectivos, imbuídos de um espirito crítico construtivo e arbitrário, então podemos e devemos analisar cada incêndio a partir de diversos pontos de vista e não concentrarmo-nos exclusivamente no combate. Sendo assim, proponho uma reflexão nas seguintes vertentes que envolvem o incêndio, fazendo um “check list” à semelhança do procedimento dos EUA:

Planeamento Florestal em matéria de DFCI: neste campo, devemos identificar se foram realizadas as acções de defesa estrutural, tais como, as faixas de gestão de combustível, a gestão de pontos estratégicos ou críticos, execução ou manutenção da rede de pontos de água, beneficiação ou execução da rede viária florestal, a criação de mosaicos de combustível, etc..

Planificação da Vigilância Contra Incêndios: neste campo importa identificar se as equipas de vigilância encontravam-se nos locais estratégicos de estacionamento (LEE’s), se procediam a vigilância móvel ou fixa, se a vigilância estava ou não planificada de acordo com o risco de incêndio, tendo em consideração o risco diário de incêndio para a zona em causa (com particular importância para os componentes do Sistema FWI: FFMC, ISI, BUI e FWI), as curvas de flamabilidade de Campbell (CPSL), o número de ocorrências registadas e o uso tradicional do fogo.

Coordenação e Operacionalidade do Combate: por último, neste campo, poderíamos colocar todo o conjunto de recomendações estabelecidas no relatório “Avaliação do Desempenho do Ataque Ampliado a Incêndios Florestais”, publicado em 2008, com base num protocolo da UTAD com a ANPC.

Com isto quero dizer que não há nada a inventar, pois tudo já foi amplamente estudado, identificado, analisado, discutido e redactado, resultante de situações vividas no passado, quer em Portugal quer nos outros países do mundo. Apenas, temos que apelar à objectividade e identificar se se procedeu ou não, quando se procedeu e como se procedeu.

Na análise aos incêndios florestais devemos de proceder de modo semelhante àquilo que a estrutura de combate a incêndios florestais dos EUA elabora na Organização das Operações de Extinção e que denomina de ”Incident Command System”, onde criteriosamente de forma objectiva são identificadas as acções e a missão de cada equipa, de cada elemento presente no Teatro de Operações e em caso de incidente ou acidente permitir identificar a falha. Em Portugal também existe este sistema e, o qual, está devidamente identificado na Directiva Operacional Nacional nº 2 – Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais, pelo que em conjunto com as recomendações definidas no relatório de 2008 (supracitado), bastaria identificar onde poderá ter falhado o combate:
  • Terá sido na interpretação do comportamento do fogo e da meteorologia de incêndio?
  • Terá sido na utilização dos meios e no modo como os meios foram empregues?
  • Terá sido na monitorização e coordenação do incêndio?
  • Terá sido falhas no uso de equipamentos ou até na sua ausência?
  • Terá sido na falta de recursos humanos capacitados em análise de incêndios para auxiliar o COS desde o início do incêndio?

Como se pode ver, surgem diversas questões apenas referentes às operações de combate, mas temos que analisar o que está para trás, para o que antecede à ocorrência, isto é, todo o trabalho que diz respeito à prevenção quer estrutural quer à vigilância, pelo que se poderia igualmente identificar possíveis falhas.
Analisar um incêndio destas características implica, como em qualquer análise, partir do geral para o particular. De modo algum devemos de apontar uma falha, sem previamente analisarmos o conjunto de elementos que constituem o ambiente onde se deu o incêndio.

Qualquer incêndio deve merecer uma atenção de forma semelhante e comparativa à avaliação do socorrista que atende uma vítima, primeiro identifica os sinais que lhe permitam proceder devidamente ao socorro, sem trazer maiores lesões à vítima. De igual modo deve-se proceder ao combate ao incêndio florestal e neste caso concreto, à sua análise. Lembrando ainda que as análises e os relatórios de nada valem se não se procederem às recomendações e correcções para que situações semelhantes não voltem a repetir-se ciclicamente.

Recordo que as análises e relatórios são úteis e devem obrigatoriamente ser realizados, não só relativamente ao GIF de Tavira e de S. Brás de Alportel, mas também aos GIF’s da Madeira e a outros incêndios que dizimaram vastas áreas de floresta e destruíram diversas habitações e equipamentos, mas também aquelas ocorrências que sendo menores levaram à perda do mais importante - de vidas dos nossos combatentes - e esses na maioria dos casos caem no esquecimento e ninguém procede a avaliar e a colocar em público a causa do acidente.

Exemplo de Check List para Avaliar o Combate

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Relatórios do GIF de Tavira

  Postado por: Emanuel Oliveira
SMPC/GTF de Vª Nª de Cerveira

Seguidamente poderá consultar as duas versões de Relatório sobre o Grande Incêndio Florestal de Tavira que teve início em 18 de Julho de 2012 e que dizimou uma área de cerca de 26 500 hectares em apenas 4 dias. Para ter uma ideia do que aconteceu, disponibilizamos os relatórios da Autoridade Nacional da Protecção Civil e da Liga de Bombeiros Portugueses.

Relatório da ANPC

Relatório da LBP  

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

CET DEFESA DA FLORESTA CONTRA INCÊNDIOS

Inscrições abertas até 31 de Agosto

A Escola Superior Agrária de Coimbra abriu inscrições para um Curso de Especialização Tecnológica em Defesa da Floresta Contra Incêndios. Salientamos que os cursos promovidos pela ESAC têm obtido o reconhecimento da Autoridade Florestal Nacional em matéria de Fogo Controlado.

O CET em DFCI surge no sentido de colmatar a lacuna actualmente existente ao nível da formação técnica operacional na área de Defesa da Floresta Contra Incêndios.

O Curso confere competências para a coordenação e execução de operações no domínio da Defesa da Floresta Contra Incêndios relacionadas com: a prevenção, a pré-supressão, a primeira intervenção, o combate alargado, o rescaldo e a gestão pós-fogo. Apesar de centrado nas questões da DFCI, o curso também confere competências em todas as áreas de trabalho na floresta, incluindo a regeneração, a condução e a exploração florestal. É objectivo do curso dotar os formandos com capacidades que actualmente se encontram dispersas por várias entidades e organismos (AFN, ANPC, GNR, ICNB) tornando-os praticamente auto-suficientes em termos de DFCI ao nível da unidade de gestão florestal onde trabalham. Para tal os formandos irão contar com a colaboração de formadores provenientes de diferentes entidades que aceitaram colaborar com a ESAC na leccionação deste CET. Muito embora o local de formação esteja centralizado na ESAC, os formandos terão formação noutros locais do país. Uma componente fundamental da formação será constituída por um período de 500 horas em contexto de trabalho, durante o Verão, no qual os formandos deverão ser confrontados com situações reais de incêndio florestal.

O Curso é composto por Unidades de Formação (UF) com estrutura modular. Cada UF decorre normalmente às quintas, sextas e sábados (UF’s de 24 horas) ou às quartas, quintas, sextas e sábados (UF’s com duração superior).

SABE MAIS AQUI: ESAC

Quaisquer informações adicionais poderão ser solicitadas através dos seguintes contactos:David Rodrigues * TELEF: +351 239 802 940 / 239 802 285 * E-MAIL: drodrigues@esac.pt 

Incêndios Florestais - 5 anos após 2003

O Estudo "Incêndios Florestais - 5 anos após 2003" elaborado pela Liga para a Protecção da Natureza, contou com a colaboração da Autoridade Florestal Nacional e de diversos especialistas nacionais e estrangeiros que se dedicam à investigação de incêndios florestais. O estudo faz  referência aos «problemas da organização institucional, das causas das ignições e das medidas necessárias para a sua redução, da situação preocupante da estrutura fundiária, do planeamento e gestão florestal e da sua certificação, da gestão dos combustíveis e do dispositivo de combate aos incêndios, entre outros aspectos.»

Mais um documento útil que não pode, não deve ser esquecido. Sendo importante para quem planifica, decide e combate, dada a sua actualidade.

Postado por: Emanuel Oliveira
SMPC/GTF de Vª Nª de Cerveira

Avaliação do Desempenho do Ataque Ampliado a Incêndios Florestais, Julho-Setembro 2007

O Estudo “Avaliação do Desempenho do Ataque Ampliado a Incêndios Florestais” foi realizado no âmbito do Protocolo entre a Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) e a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), destinado à avaliação do ataque ampliado a incêndios florestais na fase Charlie, no ano de 2007.

Deixamos aqui para conhecimento público este importante trabalho que nos dá uma perspectiva operacional dos problemas e obstáculos presentes nos incêndios florestais e, principalmente, quando estes se tratam de Grandes Incêndios Florestais (com área ardida superior a 100 hectares). A utilidade operacional deste estudo encontra-se no delineamento de um conjunto de recomendações para quem decide e assume responsabilidades na gestão e coordenação dos incêndios florestais.

Desde 2007, algumas coisas mudaram, mas será que as mudanças foram assim tão profundas!? O que melhorou no planeamento e na gestão dos Grandes Incêndios Florestais?

Aconselha-se por isso a leitura deste importante e útil estudo que nos ajudará a compreender melhor os GIF's actuais.

Postado por: Emanuel Oliveira
SMPC/GTF de Vª Nª de Cerveira

terça-feira, 7 de agosto de 2012

As Alterações Climáticas e o Aumento do Risco Meteorológico de Incêndio Florestal

O Estudo do CESAM e Departamento de Ambiente e Ordenamento, Universidade de Aveiro, titulado: “ As alterações climáticas: uma realidade transformada em desafio”, da autoria dos investigadores Carlos Borrego, Myriam Lopes, Isabel Ribeiro e Anabela Carvalho, esboça-nos uma realidade perturbadora. Sendo assim aproveito para destacar algumas conclusões deste estudo para o nosso país em matéria de risco de incêndio florestal.

No âmbito do projecto Scenarios Impacts and Adaptation Measures – SIAM [Santos et al., 2002], avaliaram-se os impactos das alterações climáticas em diversos domínios, nomeadamente, nas florestas, agricultura, zonas costeiras, pescas, recursos hídricos, energia e saúde humana. Assim, os diferentes modelos de simulação da evolução do clima para o período 2000-2100 prevêem para a Península Ibérica um aumento da temperatura entre os 4ºC e os 7ºC, ou seja, um aumento superior às previsões do IPCC para a temperatura média global à superfície da Terra (1,8ºC a 4ºC) [IPCC, 2007a]. Os resultados indicam também, para esta região, um decréscimo da precipitação, com maior incidência nas zonas centro e sul, e uma alteração do padrão da distribuição da precipitação mensal, com um decréscimo substancial na Primavera e um aumento no Inverno.”

No âmbito do projecto PRUDENCE – Prediction of Regional scenarios and Uncertainties for Defining EuropeaN Climate change risks and Effects [Christensen e Christensen, 2007], foram simulados cenários climáticos regionais sobre a Europa com alta resolução espacial (12 km). Para a avaliação do impacto das alterações climáticas em Portugal analisaram-se os valores diários de variáveis meteorológicas para o cenário de referência (1961-1990) e para o cenário futuro SRES (Special Report on Emissions Scenarios) -A2 (2071-2100) [Nakicenovic et al., 2000].

Em termos dos impactos, no cenário climático futuro (2071-2100) as maiores diferenças na temperatura média diária são registadas, durante o Verão, nos distritos de Bragança, Guarda e Castelo Branco com aumentos máximos na ordem dos 6ºC (Fig. 8). A precipitação regista uma diminuição em todos os distritos e em todas as estações do ano especialmente durante a Primavera [Carvalho, 2008].

As variáveis meteorológicas simuladas para ambos os cenários climáticos foram usados no cálculo das componentes do sistema Canadiano de risco de incêndio, Canadian Forest Fire Weather Index (FWI) System [van Wagner, 1987]. O sistema FWI permite avaliar o nível de risco meteorológico de uma região em relação à ocorrência de incêndios florestais.
O Verão regista os maiores aumentos absolutos em termos de risco de incêndio principalmente nos distritos do interior Norte e Sul. Maio apresenta o maior aumento, em termos relativos, e Outubro e Novembro também registam aumentos do índice FWI [Carvalho et al, 2009]. Este facto poderá conduzir a uma antecipação do início da época de fogos e a um aumento da sua extensão temporal. (…) as regiões do Alentejo, Beira Interior e Trás-os-Montes as mais afectados em termos do aumento do índice de risco de incêndio para os meses de Verão.

Mais de 14.100 fogos no primeiro semestre de 2012, a maior parte devido a negligência

 Por Agência Lusa, publicado em 6 Ago 2012

A negligência humana continua a ser a principal causa da origem de fogos florestais, segundo a GNR, que registou nos primeiros seis meses deste ano 14.102 ocorrências destes incêndios.

De acordo com dados do SEPNA - Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente da GNR, no primeiro semestre de 2012 foram registadas 14.102 ocorrências de fogos florestais, das quais 9.338 foram investigadas por esta força.

Segundo os dados disponibilizados à Lusa, a principal causa dos incêndios continua a ser a negligência humana.

Dos incêndios investigados, 5.819 devem-se a ações negligentes, como o cigarro lançado fora por apagar ou a queimada que se descontrola.

Por mão criminosa tiveram origem 1.114 dos incêndios investigados e oito foram por ação natural.

Em 2.397 casos não foi possível apurar a origem.

No primeiro semestre deste ano, a GNR identificou 321 suspeitos de incêndio florestal, dos quais apenas 16 foram detidos.

No ano passado, este grupo da Guarda registou um total de 31.161 ocorrências de fogos florestais, tendo investigado 20.998 delas.

Também no ano passado, a maior parte das ocorrências investigadas e às quais foi possível atribuir uma causa deveu-se a incúria: 8.415 fogos resultaram de conduta negligente, 4.327 foram intencionais e 116 resultaram de razões naturais.

Em 2011, a GNR identificou 430 suspeitos de provocar incêndios florestais e deteve 22.

Postado por: Emanuel Oliveira
SMPC/GTF de Vª Nª de Cerveira

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

FWI – UMA FERRAMENTA DE APOIO À PREVENÇÃO, ANÁLISE E COMBATE AOS INCÊNDIOS FLORESTAIS

  Postado por: Emanuel Oliveira
SMPC/GTF de Vª Nª de Cerveira

Há uns anos para cá ouvimos falar do Risco de Incêndio Florestal nos canais televisivos, nos jornais e na rádio, pela importância que este dado tem no estabelecimento de medidas e acções de prevenção. Seguidamente, descreve-se como o Risco Diário de Incêndio Florestal é estabelecido e como pode ser útil para quem tem funções na vigilância, no planeamento e prevenção, na análise e no combate.

O sistema Fire Weather Index (FWI) é a primeira parte do Canadian Forest Fire Danger Rating System (CFFDRS) que tem sido desenvolvido e testado desde 1968. Após vários anos de provas comprovou-se a sua eficácia e hoje é utilizado em vários países do mundo, em particular na Europa, sendo calibrado de acordo com a região. Através da utilização deste índice é possível estimar um risco de incêndio a partir do estado dos diversos combustíveis, com base nas observações de elementos meteorológicos. 


FFMC (Fine Fuel Moisture Code) - Índice de humidade dos combustíveis finos
ISI (Initial Spread Index) - Índice de propagação Inicial
DMC (Duff Moisture Code) - Índice de húmus
DC (Drought Code) - Índice de seca
BUI (Buildup Index) - Índice de combustível disponível
FWI (Fire Weather Index) - Índice Meteorológico de Risco de Incêndio

O FWI é um indicador relativo da intensidade do fogo, determinado pelas condições meteorológicas e pelo estado de secura da vegetação, incorporando os dados meteorológicos locais de temperatura do ar, humidade relativa, velocidade do vento a 10 m de altura e a quantidade de precipitação acumulada das últimas 24 horas, observados às 12 UTC (13 horas locais).


A intensidade do fogo entende-se como a libertação de energia por unidade de comprimento da frente de chamas, que se expressa em kW/m, e se manifesta visualmente pelo comprimento da chama. A intensidade do fogo condiciona a capacidade do controlo e extinção, pelo que a classificação de perigo meteorológico de incêndio baseada no FWI reflecte o grau de dificuldade das operações de combate aos incêndios florestais.

FFMC – Este índice, classifica os combustíveis finos mortos, de secagem rápida, quanto ao seu conteúdo em humidade. Corresponde assim ao grau de inflamabilidade destes combustíveis, que se encontram à superfície do solo. O conteúdo de humidade destes combustíveis às 12 UTC de um determinado dia, depende do conteúdo de humidade à mesma hora, do dia anterior, da precipitação (mm) ocorrida em 24 horas (12-12 UTC) e da temperatura (ºC) e da humidade relativa do ar (%) às 12 UTC do próprio dia. A intensidade do vento influência apenas na velocidade de secagem dos combustíveis.


ISI – O Índice de Propagação Inicial do fogo, depende do sub-índice FFMC e da intensidade do vento (Km/h) às 12 UTC.
BUI – O Índice de Combustível Disponível, é um factor de avaliação dos vegetais que podem alimentar um fogo (combustíveis "pesados" que se encontram no solo) e é calculado a partir de dois dos sub-índices: DMC e DC.
DMC – Este índice traduz o conteúdo de humidade do húmus e materiais lenhosos de tamanho médio que se encontram abaixo da superfície do solo até cerca de 8 cm. O índice de húmus é calculado a partir da precipitação ocorrida em 24 horas (12-12 UTC), da temperatura e humidade relativa do ar às 12 UTC e do índice de húmus da véspera.

DC – O Índice de Seca é um bom indicador dos efeitos da seca sazonal nos combustíveis florestais (húmus e materiais lenhosos de maiores dimensões), que se encontram abaixo da superfície do solo, entre 8 e 20 cm de profundidade. O índice de seca é obtido a partir da precipitação ocorrida em 24 horas, da temperatura as 12 UTC e do índice de seca verificado na véspera.





Referências:

Instituto Português de Meteorologia
Automatix
CIFAP_UTAD

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Desempenho do sistema de DFCI em Portugal Continental nos períodos de 2001-2005 e 2006-2008

 Paulo M. Fernandes
Departamento Florestal, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

O autor deste estudo revela-nos dados interessantes sobre os incêndios florestais que afectaram de forma catastrófica grande parte do território português entre 2001 e 2005 comparando a situação ao período de 2006 a 2008. Paulo Fernandes, professor e investigador na UTAD, apresenta-nos um olhar crítico ao dispositivo de prevenção e combate que caracterizou aquele período. Hoje dadas as circunstâncias actuais e o encerramento de ciclos de grandes incêndios florestais, este post literalmente transcrito da conclusão do estudo então publicado ( em 2008), assume-se de vital importância para todos aqueles que procuram algumas respostas ao actual problema dos grandes incêndios florestais. 

A principal limitação da análise efectuada prende-se com a sua resolução espacial e temporal. A enorme extensão do território que ardeu de 2001 a 2005, mais de 1.2 milhões de hectares, terá forçosamente limitado a extensão dos fogos ocorridos em 2006-2008 em várias regiões do país. Uma terceira limitação residirá na capacidade do sistema FWI para representar adequadamente o potencial de comportamento do fogo em ambientes meteorológicos extremos, nomeadamente em situações de forte instabilidade atmosférica após um período de secura bastante prolongado. Em formações dominadas por vegetação arbustiva o FWI sobrestima o potencial de fogo na Primavera, mas é possível que o subestime nos Verões mais secos.

As análises efectuadas permitem concluir que o desempenho das actividades de prevenção de ignições, detecção/1ª intervenção e ataque inicial ao fogo evoluiu favoravelmente de 2001-2005 para 2006-2008.

É especialmente relevante constatar a diminuição da fracção de fogos que excedem 100 ha de tamanho, uma vez que são responsáveis pelos impactes mais severos e por grande parte da área ardida total. Em 2006-2008 os grandes incêndios corresponderam a 65,5% da superfície queimada total, face a 84,3% em 2001-2005. Não há porém evidências de melhorias nos resultados do combate ampliado a incêndios, o que significa que não é de excluir uma repetição dos anos críticos de 2003 e 2005.

A reforma do sistema DFCI encetada após 2003 incidiu essencialmente em alterações com repercussões na prevenção de ignições e nas actividades de pré-supressão e supressão do fogo. Os resultados alcançados reflectem este esforço − e uma visão essencialmente de protecção civil, que a municipalização do planeamento da DFCI reforça − mas não são sustentáveis a médio e longo prazo sem um empenho comparável em medidas de efectiva protecção florestal. Adicionalmente, não é crível que o actual (e economicamente irracional) modelo de combate a incêndios, onde a força se substitui ao conhecimento técnico, seja compatível com ganhos de efectividade na supressão de grandes incêndios.

Leia o Artigo Completo AQUI: Avaliação do Desempenho do Ataque Ampliado a Incêndios Florestais
Saiba mais AQUI: Laboratório de Fogos Florestais

Postado por: Emanuel Oliveira
SMPC/GTF de Vª Nª de Cerveira

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