terça-feira, 28 de agosto de 2012

A luta contra os incêndios florestais: uma verdade inconveniente?

Seguidamente, colocamos aqui um artigo de Marc Palahí Lozano, publicado no site do European Forest Institute, o qual teve-se o cuidado de traduzir para português, na esperança de não lhe retirar qualquer sentido técnico e de poder alcançar o máximo de interessados que se preocupam pela defesa da floresta contra incêndios. Em curtas linhas e com elevada clareza, o artigo chama a atenção para questões tão importantes como os custos do combate, a problemática da gestão florestal, o paradoxo do fogo, a educação da sociedade na prevenção e a importância de um jornalismo mais informado e apoiado tecnicamente para divulgar e comentar um incêndio florestal (se é possível e necessário em jogos de futebol quanto mais em incêndios florestais, onde ano após ano, combatentes arriscam a vida para salvar um património de todos e onde famílias vêem os seus bens a serem destruídos pelas chamas).


Foto: Bombers, Generalitat de Catalunya.
Estima-se que a França, Grécia, Itália, Espanha e Portugal gastam um total de 2.500 milhões de euros anuais no combate aos incêndios florestais. Desse montante, mais de 60% são destinados para cobrir os custos relacionados com a supressão dos incêndios, enquanto que apenas 40% é investido em atividades direcionadas para a prevenção (muitas das quais estão também relacionadas com atividades para o combate aos incêndios: a criação de pontos de água; aceiros; etc.). Pouco resta para a gestão dos combustíveis florestais (considerando que a floresta cobre cerca de 30% do território nesses países) o que implicaria, a longo prazo, medidas preventivas que abordam a raiz do problema (a falta de gestão para reduzir a quantidade de biomassa, devido à baixa rentabilidade).
Este ano vimos que no combate aos incêndios, só se pode gerir uma pequena parte da intensidade potencial de um incêndio florestal quando é impulsionado pelas condições meteorológicas extremas e se propaga para uma área com uma elevada percentagem de combustíveis inflamáveis (florestas).


Sendo assim, as políticas para a extinção de incêndios que não se combinam com a gestão da vegetação para reduzir os combustíveis e criar manchas de interrupção de combustível, apenas servem, a médio prazo, para aumentar o risco de Grandes Incêndios Florestais (e catastróficos) (que são responsáveis por 80% das superfícies queimadas, enquanto que apenas 2% constituem incêndios florestais), tais como os que ocorreram este ano em Espanha. Isto é conhecido como o paradoxo do fogo, e foi exemplificado anteriormente na Catalunha após o período de 1986-1993, que foi seguido pelos grandes incêndios de 1994 e 1998, na Galiza após 1994-2005 e na Grécia após 2001-2006.

O que é surpreendente é que, atualmente, tanto a comunidade científica e a sociedade em geral concordam que a longo prazo, a prevenção e educação (e comunicação) devem ser os principais métodos para a resolução do problema dos incêndios florestais (um estudo internacional recente revelou que 80% dos catalães considera que a prevenção e a educação deve ser fundamental para uma política eficiente na luta contra aos incêndios florestais). No entanto, esta opinião generalizada sobre a importância da prevenção versus supressão não se reflete na maioria das políticas adotadas nos países mediterrânicos, enquanto testemunhamos na mídia que o debate foca a falta de meios aéreos e a falta da coordenação dos combatentes.

ARTIGO ORIGINAL

Traduzido por: Emanuel de Oliveira
SMPC/GTF de Vª Nª de Cerveira

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