terça-feira, 28 de junho de 2011

Primavera quente em Portugal Continental

A primavera de 2011 em Portugal Continental, estação que em meteorologia corresponde aos meses de março, abril e maio, foi a 2ª mais quente desde 1931, com a temperatura média e mínima do ar com do trimestre atingido 15.92ºC e 10.37ºC, respetivamente. A primavera mais quente ocorreu em 1997 com 16.50ºC e 10.50ºC, respetivamente.

Esta foi a 18ª primavera consecutiva com o valor da temperatura média do ar acima da normal 1971-2000. O valor médio da temperatura máxima foi elevado (21.47ºC), sendo o 3º mais alto desde 1931 (22.48ºC em 1997 e 21.53ºC em 1945). Os valores médios da temperatura máxima, média e mínima do ar foram superiores ao valor normal 1971-2000 em +2.76ºC, +2.32ºC e +1.88ºC, respetivamente.

Nos meses de abril e maio ocorreram 3 ondas de calor: uma em abril e duas em maio.

Em relação à quantidade de precipitação ocorrida na primavera 2011 o valor registado foi muito próximo do valor normal (1971-2000), com uma anomalia de +2.5mm. Classificando-se esta primavera como seca a extremamente seca na região Norte, normal a chuvosa na Região Centro e chuvosa a extremamente chuvosa na região Sul.

Fonte: Relatório do Instituto de Meteorologia


Postado por Amélia Freitas
GTF Caminha

sexta-feira, 24 de junho de 2011

CAMINHA | Abertas inscrições para Programa Voluntariado Jovem para a Floresta 2011

O Município de Caminha aderiu mais uma vez ao Programa Voluntariado Jovem para as Florestas 2011, cujas inscrições já estão a decorrer. Este programa de vigilância das florestas decorre de 15 de Julho a 15 de Setembro.

O Programa Voluntariado Jovem para as Florestas 2011, cujas inscrições terminam em Agosto, resulta de uma candidatura apresentada pela Câmara de Caminha ao Instituto Português da Juventude (IPJ), I.P e Autoridade Florestal Nacional.

O Executivo camarário pretende, com o voluntariado jovem, preservar o património natural do concelho, com vista a reduzir os incêndios que todos os anos afectam a floresta concelhia.

À semelhança de anos anteriores, este programa dirige-se aos jovens, com idades compreendidas entre os 18 e os 30 anos, que gostem da natureza e que tenham aptidão para desempenhar funções no âmbito da vigilância, com o propósito de salvaguardar as florestas dos perigos a que estão sujeitas sistematicamente.

Deste modo, os interessados podem inscrever-se na Delegação Regional do Instituto Português da Juventude de Viana do Castelo ou no Gabinete Técnico Florestal do Município de Caminha.

Em Caminha, os jovens voluntários irão desempenhar a vigilância fixa, em locais previamente definidos.

Incentivar a participação dos jovens no grande desafio que é a preservação da natureza e da floresta em particular, bem como reduzir o flagelo dos incêndios, através de acções de prevenção, são os grandes objectivos deste programa de voluntariado.

Como contrapartida da salvaguarda da floresta, os voluntários terão direito a um seguro de acidentes pessoais, a um subsídio diário e a material adequado, de modo a exercerem, da melhor forma possível, as suas funções.

Trata-se de uma iniciativa singular no contexto europeu que, em 2011, concilia os objectivos de três iniciativas internacionais, designadamente Ano Europeu do Voluntariado, Ano Internacional da Juventude e Ano Internacional das Florestas.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Menos Água e Mais trabalho de "Combatente"!

Adopção de novas instruções para meios áereos



Para "destressar"!

Postado por: Emanuel de Oliveira
SMPC/GTF Vila Nova de Cerveira

sábado, 18 de junho de 2011

AFNdis | flash | jornal Público 12Jun11 - Protecção florestal ao acaso e o acaso das florestas públicas

Texto subscrito pelo Presidente da Autoridade Florestal Nacional e que constitui a respectiva resposta oficial ao artigo Protecção florestal ao acaso e o acaso das florestas públicas, da autoria de Francisco Castro Rego e António Salgueiro, publicado no jornal “Público” do passado dia 12 de Junho de 2011.

“A leitura do artigo com o título “Protecção florestal ao acaso e o acaso das florestas públicas” (Público 20110612) subscrito por Francisco Rego e António Salgueiro, obrigam-me a esclarecer os Leitores, na perspectiva de tentar corrigir algumas das ideias expendidas, colocando o assunto de acordo com a realidade e dessa forma respeitar a verdade dos factos.

Não irei abordar a totalidade dos assuntos, mas atendendo às funções que os signatários tiveram no passado próximo, o que naturalmente lhes confere também responsabilidades, será importante referir alguns aspectos que considero essenciais, para que se perceba o alcance de algumas críticas, e até para que não possa perpassar pelos leitores a ideia de estarem perante pessoas recém chegadas aos temas florestais.

Passemos então aos vários esclarecimentos que considero necessários:

1. A Autoridade Florestal Nacional está incumbida de realizar uma monitorização externa da execução do Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios (PNDFCI) sendo que o resultado dessa mesma avaliação, foi apresentado no último Conselho Consultivo Florestal (CCF) no passado dia 1 de Junho. Esse mesmo relatório foi encaminhado para a GNR e para Autoridade Nacional de Protecção Civil (outras entidades responsáveis pelos 2 pilares estruturais do plano nacional) para a necessária tomada de iniciativas e soluções correctivas adequadas. Por esta razão o apuramento das fragilidades, o impacto da ineficiência e eficiência encontradas, a importância das condições meteorológicas, entre outras, irão ser ponderadas no diagnóstico das questões suscitadas. A este respeito sempre se dirá que as condições meteorológicas – assunto destacado no artigo - são sempre um factor determinante, que não se pode negar, responsável parcial pelos maus resultados em anos como 2003 e 2005, mas também pelos bons resultados alcançados em 2007 e 2008.

2. A orientação estratégica na Defesa da Floresta Contra Incêndios está consubstanciada no citado PNDFCI, aprovado em RCM/65/2006 de 25 Maio, no período em que o Sr Francisco Rego era precisamente Director Geral das florestas, pelo que não é perceptível a afirmação de que “é alarmante a actual falta de orientação estratégica na Defesa da Floresta Contra Incêndios”, uma vez que ela é basicamente a mesma desde 2006.

3. Não beliscando os objectivos e alguns resultados do projecto europeu Fire Paradox (2006-2010) importará referir que foi, e bem, entusiasticamente abraçado pelo Sr. Francisco Rego tendo feito parte do conjunto de projectos do Centro de Ecologia Aplicada Prof Baeta Neves, organização na qual o Sr. Francisco Rego é coordenador científico. O PNDFCI é totalmente omisso no tocante ao projecto europeu Fire Paradox e endossa claramente as responsabilidades e técnicas de combate à ANPC e aos Bombeiros de Portugal, onde se incluem as técnicas de contra fogo.

4. Após a saída do Sr. Francisco Rego da ex-DGRF, foi publicada uma Portaria (nº 35/2009 de 16 de Janeiro) onde é formulada a intenção de criar uma estrutura, onde, entre outros aspectos, existe a referência ao Grupo de Especialistas de Fogo Controlado (GEFoCo), e a Grupo de Análise e Uso do Fogo (GAUF). Tudo aparenta que a administração, após esta publicação, teria concluído não ter capacidade interna para montar tal estrutura e optou por recorrer a recursos externos para resolver as necessidades criadas.

5. Nesta sequência a Administração abriu em Fevereiro de 2009 dois concursos públicos internacionais para prestação de serviços, um para a área da gestão de combustíveis e outro para a área da prevenção estrutural da defesa da floresta (incluindo a fitossanidade), aos quais apenas foi opositora uma única empresa, a GIFF S.A. (Gestão Integrada de Fogos Florestais S.A.), cujo representante é o Sr. António Salgueiro co-autor do artigo publicado. As condições estabelecidas na prestação destes serviços, passavam pela prestação de serviços técnicos. Os meios logísticos, viaturas, telemóveis, computadores, equipamentos de protecção pessoal, despesas de comunicação e combustíveis foram suportados pela AFN, sendo certo que anualmente à GIFF seriam pagos cerca de €3.200.000 (3,2 milhões de euros – correspondendo a 1,79 M€ e 1,39 M€ em cada um dos contratos), numa contratação que terminou em Junho de 2010.

6. A actual direcção, quando iniciou funções em 1 de Dezembro de 2009, e após ter analisado as responsabilidades anteriormente assumidas, pretendeu respeitar as obrigações consagradas no PNDFCI, no entanto, num modelo que respeitasse a “troika”, Eficiência – Eficácia – Economia, por ter considerado não estarem estas garantidas no processo existente. Nesta linha de acção, requereu à tutela, em Janeiro de 2010, a libertação de vagas para possibilitar a abertura de concurso externo para contratação de técnicos com valências técnicas que dessem garantias na prossecução das missões de Defesa da Floresta, e na impossibilidade legal de procedimentos concursais, conseguiu, com a aprovação do Ministério das Finanças a realização de contratos que mantivessem, em termos técnicos, a manutenção das condições necessárias para o bom desempenho da instituição. Por último acrescento que na campanha de Outubro 2009 a Abril de 2010 se realizaram cerca de 1300 ha de fogo controlado (2007: 650 ha; 2008: 670 ha).

7. A propósito da realização de fogo controlado, ferramenta de gestão florestal imprescindível, provámos em 2011, ser possível fazer mais com muito menos despesa, utilizando recursos humanos e equipamentos internos. A este propósito e em apenas 4 meses de trabalho, foram realizados no país mais de 800 ha, com custos estimados em cerca de €20.000, contando com salários e todas as despesas associadas (com um custo por ha de aproximadamente €25). Com estas iniciativas, transportamos os objectivos do GEFoCo para equipas internas da AFN, com uma notável capacidade de execução. A isto chamamos defesa do interesse público.

8. A AFN não tem como objectivo, como é referido, “acabar com o Grupo de Análise e Uso do Fogo (GAUF)”, mas antes passar esta responsabilidade para que tem a incumbência do combate aos incêndios florestais, ou seja para os Corpos de Bombeiros e para a ANPC. No entretanto, e enquanto os aspectos legais não são alterados, abriu um concurso público urgente que encerrou no passado dia 9 de Junho e ao qual concorreram várias empresas, prova que o processo deve ser aberto, pois existe interesse no mercado de trabalho (demonstrando ter profissionais preparados, mas tratados como “figurantes” no artigo), e na administração, a obrigatoriedade de dar total transparência nos actos que pratica.

9. Nesta linha de actuação, este ano as equipas GAUF vão ser constituídas por

elementos especializados e com reconhecida experiência (6 técnicos contratados pelo concurso atrás referido), por técnicos da AFN - no sentido de rentabilizar os recursos da administração pública que possuem experiencia e pela primeira vez, por elementos da Força Especial de Bombeiros (FEB) da ANPC de modo a internalizar experiência e métodos de trabalho nestas instituições.

10. Não é verdadeira a afirmação “tentativa de suspender a actual regulamentação sobre o uso do fogo técnico (uso do fogo na prevenção e no combate a incêndios florestais)”. Efectivamente a AFN produziu uma nova proposta de regulamento técnico do fogo, visando difundir a prática com respeito pelas necessárias normas de segurança e eliminando uma certa tendência elitista no uso desta técnica e dando mais responsabilidade à ANPC, pelo motivos acima indicados. Esta proposta de regulamento está pronta, foi consensualizada com o MAI e faz naturalmente parte dos dossiers de transição para a nova tutela.

11. O referido apoio assumido pela tutela no reforço em 2 milhões de euros para meios aéreos, visou manter um nível ajustado de resposta de primeira intervenção, que é, como sabem os subscritores do artigo de opinião, chave de sucesso para a diminuição das probabilidades de progressão dos incêndios.

12. Desconhecemos qual a capacidade que os dois subscritores do artigo terão para influenciar a alteração dos princípios que estiveram na base do delineamento do actual PNDFCI. Porque pensamos legítimo que a mudança pode acontecer, estaremos sempre naturalmente atentos a essa possibilidade e também ao fenómeno, de que por vezes, à sombra de legítimos interesses públicos se confundem protagonismos pessoais e interesses privados.

13. Relembro que a discussão em 2005 do actual PNDFCI, deitou por terra uma outra proposta do Instituto Superior de Agronomia, que pretendia para Portugal a criação de uma estrutura especialmente dirigida para os incêndios florestais, libertar os corpos de Bombeiros dessa tarefa, subalternizando-os, dando-lhes um papel menor, complementar e supletivo, desprezando uma das maiores redes de socorro que um país pode dispor. Essa proposta mereceu um redondo não por parte do Governo.

Apesar desse facto o Sr. Francisco Rego entendeu na altura manter-se à frente da DGRF e cumprir o PNDFCI actualmente em vigor e que agora parece criticar….

14. Estamos sempre a tempo de melhorar, mas no nosso dia-a-dia temos a obrigação de garantir a necessária transparência nos processos que dizem respeito à coisa Pública, colocando o interesse do Estado e dos contribuintes à frente de qualquer outro tipo de interesses.”

Amândio Torres

14 de Junho de 2011

terça-feira, 14 de junho de 2011

Criação da ZIF Lima Vez

Serviço Municipal de Protecção Civil realizou sessão informativa com os Presidentes da Junta do Concelho cuja área se encontra englobada na ZIF

Esta nova ZIF que a AFL pretende criar abrange os concelhos de Ponte de Lima e Arcos de Valdevez, nomeadamente as Freguesias de Aguiã, Arcos de Valdevez (S. Salvador, Arcozelo, Bárrio, Bertindos, Brandara, Cabração, Calheiros, Cendufe, Cepões, Estorãos, Fontão, Guilhadeses, Jolda (Madalena), Jolda (S.Paio), Labruja, Labrujó, Miranda, Monte Redondo, Moreira do Lima, Padreiro (Salvador), Padreiro (Santa Cristina), Parada, Prozelo, Refoios do Lima, Rendufe, rio Cabrão, Rio de Moinhos, Rio Frio, Sá, Santa Comba, Santar, Senharei, Souto, Tabaçô, Távora (Santa Maria), Távora (São Vicente), Vila Fonche e Vilar do Monte.


O Serviço Municipal de Protecção Civil, representado pela técnica Alexandra Nogueira, e a AFL – Associação Florestal do Lima, representada pela coordenadora Elisabete Abreu, reuniram recentemente no Posto Municipal de Informação e Turismo de Arcos de Valdevez com os Presidentes da Junta do concelho abrangidos pela futura ZIF Lima Vez, para uma sessão de esclarecimento e para lhes garantir todo o apoio aquando da sua criação.

A Associação Florestal do Lima (AFL) promove a gestão sustentável e colabora com a formação e informação dos proprietários e produtores florestais.

Esta nova ZIF que a AFL pretende criar abrange os concelho de Ponte de Lima e Arcos de Valdevez e trata-se de uma área territorial contínua e delimitada, constituída maioritariamente por espaços florestais, num total de 23.105 ha.

As ZIF são criadas com o intuito de se ultrapassarem os problemas das pequenas propriedades sem gestão florestal e que não são economicamente rentáveis e para promover uma gestão activa e permanente dos espaços florestais; proteger eficazmente as áreas florestais e os espaços rurais associados; fomentar a recuperação dos espaços florestais e naturais afectados por incêndios; dar coerência territorial e eficácia aos diferentes instrumentos de ordenamento e á acção de todos os que intervêm no espaço florestal, bem como reduzir as condições de ignição e de propagação de incêndios.

Para aderir à ZIF basta ser proprietário ou produtor florestal e contactar a AFL para, com o apoio de um técnico, preencher a sua ficha de adesão; subscrever o requerimento; identificar os prédios rústicos onde é proprietário ou arrendatário.

O proprietário florestal que tenha propriedades nas Freguesias abrangidas pela futura ZIF Lima Vez poderá aderir à mesma, obtendo assim uma garantia de assistência técnica sem perder qualquer dos direitos como proprietário.

Protecção florestal ao acaso e o acaso das florestas públicas

No Jornal Público de 12 de Junho do corrente foi publicado um artigo da responsabilidade conjunta do Prof. Francisco Rego do ISA (ex-Director Geral dos Recursos Florestais) e do Eng.º António Salgueiro da GIFF, SA (ex-Coordenador das Equipas GAUF). Trata-se de um artigo de opinião que reflecte o ponto de vista em matéria da gestão florestal e do uso do fogo. Deixamos para conhecimento e apreciação de todos este artigo na íntegra.

Protecção florestal ao acaso e o acaso das florestas públicas

Público 20110612 Francisco Castro Rego

(clique na imagem para ampliar e poder ler)

O impacto dos incêndios florestais no ano de 2010 foi de novo particularmente destruidor nalgumas manchas florestais

Depois dos anos terríveis de 2003 e 2005 e de anos mais favoráveis a partir de 2006, o impacto dos incêndios florestais no ano de 2010 foi de novo particularmente destruidor nalgumas manchas florestais públicas, relevantes pela sua importância económica, social, paisagística ou ambiental, de muitos concelhos dos distritos do Norte e do Interior Centro do país. Em muitas destas áreas perdemos a capacidade da floresta se reconstituir naturalmente e a oportunidade de aproveitar as condições criadas pela falsa "pesada herança do pinhal bravo" para a sua reconversão por espécies mais interessantes do ponto de vista ambiental e de gestão do risco de incêndio.

Em 2010, foram já ultrapassadas grandes metas do Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, destacando-se os 25 incêndios com mais de 1.000 ha cada, contra um objectivo de zero, muitos dos quais em áreas "geridas" pelo Estado. No entanto, a imagem que se pretendeu passar, no balanço da campanha de incêndios de 2010, foi de que a culpa foi da meteorologia, o que desde logo desresponsabiliza toda a sociedade e a conclusão foi que poderia ter sido ainda pior!

Continuamos focalizados sobre os números simples do custo absoluto ou sobre o número de meios disponíveis, sem nos preocuparmos com os verdadeiros resultados de eficiência. Seria de esperar que os acontecimentos de 2010 provocassem uma preocupação acrescida por parte da estrutura pública responsável simultaneamente pela prevenção estrutural contra incêndios florestais e pela gestão de parte significativa das nossas florestas públicas, a Autoridade Florestal Nacional.

No entanto, aquilo que tem vindo a acontecer consiste essencialmente no oposto. É alarmante a actual falta de orientação estratégica na Defesa da Floresta Contra Incêndios, parecendo existir uma enorme vontade de substituição de objectivos e iniciativas sustentadas a médio e longo prazo, baseadas no conhecimento, responsabilização e profissionalização, pelo empirismo e a publicitação de acções isoladas, num jogo de faz-de-conta que vai entretendo a opinião pública.

As posições tomadas consistem essencialmente na negação do processo evolutivo e participativo que vinha a ser implementado por uma estrutura da própria organização, a Direcção Nacional para a Defesa da Floresta (DF), desrespeitando alguns técnicos excelentes desta estrutura que, apesar de tudo, se têm mantido empenhados em tentar minimizar os estragos. Refira-se que muita desta evolução foi conseguida com a colaboração técnica e operacional do projecto europeu Fire Paradox (2006-2010), em que contribuíram especialistas e operacionais de vários países, de reconhecido mérito internacional.

Este processo de retrocesso na AFN, iniciado em 2010, teve já impactos muito negativos em várias iniciativas e actividades, nomeadamente:

- Pelo cancelamento do projecto do Grupo de Especialistas de Fogo Controlado (GEFoCo), cujo trabalho desenvolvido, entre 2007 e 2010, permitiu a aplicação desta técnica em cerca de 3.500 hectares, que contribuíram para a contenção de mais de 50 incêndios florestais nos últimos 3 anos, protegendo importantes manchas florestais públicas. Estas acções contribuíram ainda para colocar novamente Portugal como um dos países da Europa com maior e melhor utilização do fogo controlado para a Defesa da Floresta Contra Incêndios, de que são prova os inúmeros convites para apresentação da nossa experiência além-fronteiras.

- Pela tentativa de acabar com o Grupo de Análise e Uso do Fogo (GAUF), a única estrutura técnico-operacional dedicada exclusivamente à prevenção e ao combate a incêndios florestais, cujos requisitos de formação, capacitação, dedicação e independência serão considerados exagerados e desnecessários pelos actuais responsáveis máximos da AFN. Estas equipas colaboraram no combate, nos últimos 5 anos, a mais de 300 grandes incêndios, intervindo quando estes atingem grandes proporções ou ameaçam áreas florestais relevantes. Os mesmos dirigentes têm vindo a desenvolver um processo, pleno de episódios rocambolescos, para suprimir estas equipas ou para a substituição destes profissionais por qualquer figurante que queira vestir o equipamento.

- Pela tentativa de suspender a actual regulamentação sobre o uso do fogo técnico (uso do fogo na prevenção e no combate a incêndios florestais), uma das mais avançadas da Europa, que define as condições da formação e da utilização do fogo, através nomeadamente da responsabilização dos utilizadores. Esta questão é particularmente delicada num país em que muitos dos utilizadores ad hoc do fogo no combate (vulgo contra fogo) pretendem o anonimato de forma a nunca serem associados aos impactos negativos (e muitas vezes perigosos) da má utilização desta técnica poderosíssima mas extremamente exigente.

- Pela paragem do processo de enquadramento e facilitação da realização das queimadas para a pastorícia, em períodos de baixo risco de incêndio. O objectivo principal consistia na criação de condições para retirar ao máximo esta causa de incêndios do período crítico e cujos resultados frequentemente são negativos para os próprios causadores.

- Pela não-sequência às propostas feitas para implementação de um necessário Plano Nacional de Uso do Fogo.

E, para corolário deste retrocesso, em vez de se prosseguir o investimento em conhecimento, estratégia e antecipação, a AFN resolve transferir 2 milhões de euros do Fundo Florestal Permanente, destinados à prevenção, para a contratação de meios aéreos para o combate.

Esperemos, mais uma vez, que a meteorologia ajude, de forma a podermos ainda manter as poucas manchas florestais emblemáticas que restam no Centro e no Norte deste país, cuja vocação principal, segundo concluía um famoso economista num aprofundado estudo levado a cabo nos anos 80, era o sector florestal. Só não se entende como pode um sector tão promissor ser abandonado a uma tão grande falta de responsabilidade e de estratégia, que levou a que a entidade pública responsável máxima pelo sector florestal tivesse conhecido, entre 2009 e 2010, três presidências e duas secretarias de Estado e respectivos adjuntos. É mais que tempo de pedirmos responsabilidade e avaliação de impacto das decisões (ou da sua falta) aos nossos dirigentes máximos públicos.

Parece, infelizmente, que as lições aprendidas com os terríveis incêndios florestais de 2003 e 2005 (que percorreram 1/4 dos nossos espaços florestais) estão a ser agora esquecidas e que o esforço e investimento feitos na organização, no conhecimento e na utilização do fogo (na prevenção e no combate), que tão bons resultados proporcionaram, estejam agora a ser abandonados. Seria previdente e urgente encararmos esta realidade e agirmos racionalmente, com a consciência de que existem hoje condições de acumulação, continuidade e características de combustíveis que podem originar incêndios piores do que aqueles que o país conheceu em 2003.

Ainda estamos a tempo de corrigir o processo! Professor do Instituto Superior de Agronomia, ex-director-geral dos Recursos Florestais; coordenador do Grupo de Análise e Uso do Fogo da Autoridade Florestal Nacional




Postado por: Emanuel Oliveira
SMPC/GTF de Vila Nova de Cerveira

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