sábado, 28 de julho de 2012

INCÊNDIOS FLORESTAIS. NÃO PODEMOS BAIXAR A GUARDA

Artigo de Informe Incendios Forestales 2011

O artigo (incluído no Relatório de Agosto de 2011) que seguidamente se transcreve esboça a preocupação da Greenpeace Espanha sobre os incêndios florestais, abordando de forma tecnicamente sustentada a relação do actual modelo de gestão florestal, com o modelo de extinção e a mudança climática. Vale a pena ler o artigo que foi traduzido para português dada a importância pela similitude com a realidade florestal portuguesa. Sendo um artigo que não só nos deve deixar a pensar, mas antes que nos sirva como técnicos, agentes ou políticos com competências em matéria florestal a tomarmos previamente atitudes. Fica aqui o ALERTA!

A redução do número de incêndios e uma menor superfície florestal afectada pelo fogo nos últimos anos é, sem dúvida alguma, uma óptima notícia.

Graças aos avanços tecnológicos, a uma maior coordenação e aos esforços humanos e financeiros temos ganho em rapidez na detecção e chegada ao foco de incêndio, assim como nos meios materiais disponíveis para a extinção dos incêndios florestais. Na maioria dos incêndios florestais, as equipas de combate estão melhor preparadas para apagá-los em menor tempo e de melhor forma. Neste cenário geral há que fazer uma excepção no caso dos incêndios de alta intensidade (produzidos em condições meteorológicas extremas), ingovernáveis por natureza, os quais cada vez mais constituem uma percentagem maior da superfície que se queima anualmente.

Após décadas de trabalho e de campanhas de sensibilização da parte da administração pública, meios de comunicação e a acção de diversas colectividades, é perceptível uma maior sensibilidade da cidadania para este problema, uma maior cultura de segurança no trabalho florestal e agrícola, protocolos de actuação em condições meteorológicas extremas e um comportamento mais responsável das comunidades historicamente implicadas na origem dos incêndios florestais. Ainda que todavia fica muito por fazer, não há dúvida alguma de que a sociedade avança na direcção correcta.

Tanto as alterações legislativas (Lei do Solo, Lei da Floresta, leis florestais das autonomias, etc.) como a reforma do Código Penal em 1995 tem vindo a fechar as portas aos incêndios motivados por alterações do uso do solo e outros interesses. A perseguição do delito de incêndio florestal, especialmente a partir da criação da “Fiscalía Coordinadora de Medio Ambiente y Urbanismo” (organismo espanhol para a fiscalização para delitos ambientais e urbanos) tem sido fundamental. O trabalho das equipas de investigação tem melhorado muito o conhecimento sobre as causas dos incêndios florestais e a actuação das entidades fiscais do Meio Ambiente está a conseguir dissuadir os responsáveis dos incêndios florestais por via coerciva, mas também é de louvar a sua tarefa na prevenção dos mesmos.

A “temperatura social” tem diminuído e os inquéritos de opinião reflectem que os cidadãos colocam num plano secundário os incêndios florestais, quando se lhes questiona pelos problemas ambientais que afectam mais os espanhóis. Isto ocorre inclusive após o alarme social produzido em alguns grandes incêndios ou depois de ondas incendiárias nos últimos anos. O certo é que o problema dos incêndios florestais continua a estar na memória dos cidadãos, mas não com a mesma intensidade.

A crise económica e os cortes orçamentais têm começado a afectar as rúbricas destinadas à prevenção e extinção de incêndios e ainda pior, devido à descida do número de incêndios e uma menor percepção social do problema, os orçamentos destinados à gestão florestal e ao combate aos incêndios poderá ainda, sofrer maiores cortes nos próximos anos devido à crise.

A sociedade espanhola e, com ela, a classe política, poderia pensar que os incêndios florestais já não são um problema sério. Contudo, estamo-nos a enganar!

Os cientistas e investigadores em mudança climática têm alertado sobre o aumento das temperaturas médias e da seca do solo, o maior risco de ondas de calor e de períodos de escassez de água, uma maior dessecação da vegetação e, portanto, um aumento da flamabilidade da vegetação. A mudança climática soma-se a uma situação estrutural da floresta espanhola, caracterizada pelo aumento da superfície florestal fruto do abandono do meio rural e dos aproveitamentos florestais, o que por sua vez produz um aumento das massas florestais jovens, instáveis e com pouca ou nula gestão.

Esta situação tem levado a alguns técnicos a levantar a voz de alarme e de alerta sobre aquilo a que eles denominam como o “paradoxo da extinção”. Segundo este conceito, entramos numa espiral, na qual, fruto do imperante predomínio da extinção, criou-se uma paisagem com mais combustível que conduz a incêndios mais intensos. O modelo de extinção total e o facto de se considerar o fogo como algo absolutamente negativo, leva-nos a que quando este se produz (seja qual for a causa) conduz-nos a um tipo de incêndio florestal mais virulento, incontrolável e destruidor.

De modo paradoxo, a redução de incêndios florestais frequentes de baixa e média intensidade promove a proliferação de incêndios de alta intensidade que são menos frequentes mas mais destrutivos.

Alguns especialistas que têm analisado o comportamento do fogo em ecossistemas similares em outras latitudes, alertam sobre a redução deste tipo de perturbações naturais como elementos de renovação dos ecossistemas mediterrâneos. Assim, ainda que o número de incêndios é 15 vezes superior ao regime que existiria naturalmente de incêndios florestais, a superfície que deveria de arder é muito inferior ao regime natural.

Estes especialistas apontam que, dada a acumulação de biomassa num contexto de êxito na extinção de incêndios (novamente o “paradoxo da extinção”), mais cedo ou mais tarde enfrentaremos episódios catastróficos que superarão todos os dispositivos de extinção e gerarão uma situação de autêntica emergência nacional.

O modelo actual coloca-nos numa situação de incêndios latentes ou potenciais de grande intensidade numa parte importante dos espaços florestais, de uma recorrência ainda desconhecida, mas segura, se não se alterarem as actuais estruturas de combustível florestal. Além disto, se se reduzirem os orçamentos destinados à gestão florestal, à prevenção e ao combate aos incêndios, estamos literalmente alimentando o DESASTRE.

Perante esta situação, a Greenpeace adverte que não podemos baixar a guarda ainda que estejamos a viver alguns anos de fôlego. Os incêndios florestais continuam a ser um dos principais problemas ambientais de Espanha.

Greenpeace propõe o reforçar aqueles aspectos encaminhados a utilizar o Código Penal como ferramenta de dissuasão e de prevenção dos incêndios florestais, assim como abordar os grandes desafios derivados da realidade florestal espanhola, onde aos problemas estruturais do meio florestal espanhol somam-se os efeitos da mudança climática. A planificação florestal deve incorporar um conjunto de cenários futuros que contemplem as mudanças previstas nas comunidades florestais devido ao incremento das temperaturas e as dinâmicas da vegetação como consequência do fogo, assim como os riscos derivados do fogo sob cenários de perigosidade crescente.

Há que rever o modelo vigente do combate aos incêndios e evoluir para uma gestão global do combustível, potenciar a actividade silvícola, o aproveitamento energético da biomassa florestal, o fomento do pastoreio e onde o fogo controlado ou queima prescrita e a gestão de incêndios de baixa intensidade podem ser mais uma alternativa na hora de reduzir a carga de biomassa florestal.

Finalmente e como vêm assinalando diversos agentes do sector florestal e diversas entidades associativas, é necessário dar uma maior relevância ao meio florestal dentro da economia espanhola e converter o sector florestal num sector estratégico dentro de um novo modelo económico que reúna a criação de emprego, o reequilíbrio territorial, geração de riqueza e a conservação da natureza.

Saiba mais aqui: Greenpeace Espanha

Traduzido por: Emanuel de Oliveira
SMPC/GTF de Vª Nª de Cerveira

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