terça-feira, 3 de julho de 2012

Eduardo Rojas: “Para salvar a floresta dos incêndios, há que geri-la”

Artigo de Antonio Cerrillo
Barcelona


Eduardo Rojas, subdirector geral da FAO e responsável pelo seu departamento florestal, é um grande conhecedor dos incêndios florestais e da gestão florestal. Nesta entrevista, pede que os serviços que a floresta oferece sejam remunerados pela sociedade.


Quais as reflexões que lhe vêm à cabeça a partir destes incêndios em Valencia?

Ainda que evidentemente prematuro saber o alcance dos danos, tratam-se dos incêndios mais graves ocorridos na Comunidade Valenciana e na faixa mediterrânea espanhola desde 1994. Os incêndios florestais são um elemento estrutural do clima mediterrâneo pelo que a sociedade até agora tem respondido de forma bastante limitada. Apesar da crença popular de que cada dia existe menos floresta – algo certo em outras regiões do Planeta – a virulência destes incêndios demonstra justamente o contrário. É a consequência da expansão da massa florestal que explica esta situação com os factores meteorológicos adversos.

Porque têm sido tão virulentos?

As condições meteorológicas dos dias anteriores foram muito desfavoráveis, especialmente porque se viram reforçadas por uma temporada precedente muito seca e com várias ondas de calor extremo nos meses anteriores.

Quais as causas estruturais que o justificam?

A Comunidade Valenciana sofre uma forte dicotomia entre uma pequena fracção do território que acumula praticamente a totalidade da população, da actividade económica e do investimento público e privado e uma maior parte do território que perdeu em grande medida o seu sentido original, pelo seu vínculo à produção de alimentos, matérias-primas e energia. Agora passou a fornecer serviços ambientais vitais (como água, protecção do solo, biodiversidade, mitigação da mudança climática ou paisagem) mas pelo seu custo ninguém se responsabiliza.

O que tem falhado?

Todavia é prematuro responder a isso. No entanto, existe um amplo consenso em que as politicas meramente reactivas, baseadas num investimento desproporcional na extinção, face à prevenção, num sentido amplo esgotaram o seu percurso. Um dos principais efeitos, perversos, é o denominado paradoxo da extinção.

O que é?

Como cada dia somos capazes de extinguir até 99% dos incêndios nas primeiras horas, estamos a acumular um risco enorme enquanto por condições meteorológicas extremas um incêndio se escape. Por isso, torna-se necessário dispor de uma segunda estratégia de ataque ao fogo, no caso de que este se torne catastrófico. Esta estratégia tem que ser diferente da prévia, dado que a água transportada por terra ou ar, além do seu elevado custo nunca poderá fazer frente a um incêndio de grandes proporções. Técnicas ancestrais como os contrafogos – preferencialmente nocturnos – apoiados em linhas de defesa bem desenhadas e uma previsão meteorológica afinada, são uma cirurgia capaz de evitar o pior cenário. Isto requer, evidentemente, pessoal técnico altamente qualificado e uma considerável determinação.

Como Seria uma boa gestão da floresta ou território para evitá-los?

Do mesmo modo que se evoluiu da política de sanidade à saúde, deve priorizar-se também aqui uma politica proactiva. A floresta mediterrânica tem sido gerida durante milénios e deve seguir sendo no sentido de eliminar o excesso de biomassa que incrementa o risco de incêndio. A tendência para o uso de madeira como combustível é extremamente oportuna. Ao mesmo tempo, é necessário assegurar fluxos económicos que compensem os serviços ambientais que gratuitamente provêm da floresta. Finalmente, requer-se um ordenamento do território que evite continuidades horizontais de massa florestal através de mosaicos agrícolas estrategicamente situados, com função de corta-fogos, mas muito mais sugestivos e eficientes. A iminente reforma da PAC, especialmente as medidas de desenvolvimento rural, têm uma considerável potencialidade para abordar estes desafios.

Destinaram-se poucos recursos à extinção, até que ponto têm incidindo os cortes na extinção?

Os recursos destinados à extinção têm sido os últimos a ser atingidos pela crise. Contudo não existem meios suficientes para proteger todas as instalações, aglomerados, povoações, etc. Nos locais com problemas estruturais de incêndios torna-se necessário dispor de mecanismos de autodefesa em todas as zonas de risco de incêndio florestal, como por exemplo através de planos de autodefesa de aglomerados. É algo que devemos de acostumar-nos tal como acontece com a inspecção dos elevadores nos prédios.

Traduzido por: Emanuel de Oliveira
SMPC/GTF de Vª Nª de Cerveira

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