Em 19 de Março deste ano, sob o post titulado «O Ano Hidrológico 2011/2012 e os Incêndios Florestais de 2012. O “Inferno” pode repetir-se!?» tive a oportunidade de expor uma preocupação geral pela semelhança dos anos hidrológicos 2004/2005 com 2011/2012, no que respeita à evolução do número de ocorrências e da área ardida, à evolução meteorológica e os seus índices de seca e de risco diário de incêndio.
Face à situação dos incêndios florestais de inverno que afectaram o território do Alto Minho, afirmei naquele artigo que o ano 2012 parecia seguir a tendência de 2005, ao nível dos incêndios florestais. Hoje, passados quatro meses desde a publicação desse post e recorrendo a dados ainda provisórios (2012) sobre as ocorrências de incêndios florestais, posso afirmar que a preocupante tendência mantém-se, pois em 2005 até ao dia 31 de julho, o país sofreu 15 668 fogachos e 4 452 incêndios e teve uma área ardida de cerca de 92 378 hectares; em 2012 até ao dia 27 de julho, Portugal Continental sofreu 10 799 fogachos e 3 130 incêndios florestais, obtendo uma área ardida de cerca 44 802 hectares, à qual ainda devemos somar cerca de 26 500 hectares do GIF de Tavira, o que dá um total aproximado de 71 248 hectares.
À medida que o tempo passa e em virtude da carga de biomassa florestal cada vez mais disponível, os componentes do índice diários de risco de incêndio vão igualmente agravando-se devido sobretudo à ausência de precipitação e à situação de seca meteorológica que tem caracterizado este ano hidrológico. Segundo, o último relatório publicado pelo Instituto de Meteorologia no mês de junho, “a situação de seca meteorológica mantém-se, verificando-se no final de junho um agravamento em relação ao final de maio em particular nas regiões do Centro e Sul. Assim, em 30 de junho 2012, 56% do território encontra-se em seca extrema, 24% do território em seca severa, 16% em seca moderada e 4% em seca fraca.”
Esta situação conduziu a diversos incêndios que fustigaram a região Norte durante um inverno anormalmente seco e actualmente tem vindo a proporcionar um aumento do número de ocorrências e um incremento do número de grandes incêndios florestais nas regiões Centro e Sul. Contudo, devemos de recordar que principalmente durante os meses de Abril e Maio, a região Norte beneficiou de valores consideráveis de precipitação que proporcionaram um aumento da carga de biomassa florestal. A reduzida ou nula precipitação registada nos últimos dois meses, tem conduzido a um aumento da velocidade de dessecação da elevada carga de combustíveis florestais, o que se traduz num aumento da sua disponibilidade e susceptibilidade ao fogo. Convém recordar que a região Norte é aquela que anualmente regista o maior número de incêndios e de área ardida e neste Verão praticamente, tem sido poupada do fogo na generalidade dos distritos, quando comparado com anos anteriores.
Mantendo-se uma situação meteorológica caracterizada pela condição de precipitação reduzida ou nula e acompanhada de um aumento dos componentes que constituem o índice meteorológico de risco de incêndio do sistema FWI (Fire Weather Index), a região Norte pode ser o próximo território afectado pelo flagelo dos incêndios florestais, com particular preocupação para a incidência dos incêndios de alta intensidade e elevada severidade, dada a caracterização do período de recorrência e o modelo de combustível florestal presente.
Confirmando-se o agravamento ou manutenção da situação meteorológica, seria aconselhável a deslocalização preventiva de alguns meios de combate para a região Norte, os quais deveriam ficar estacionados estrategicamente, reforçando o dispositivo regional de combate aos incêndios florestais. Por outro lado, seria importante um incremento dos recursos de vigilância, fiscalização e dissuasão. Tais medidas, permitem uma resposta mais célere em caso de ocorrência de um GIF, menos desgaste dos meios humanos e dos recursos materiais, uma maior contenção das despesas com o combate e uma maior segurança dos combatentes.