domingo, 5 de setembro de 2010

Chuvas torrenciais podem "matar" solos florestais

Por Alfredo Maia, Jornal de Notícias


Técnicos da Autoridade Florestal Nacional estão a fazer o levantamento das necessidades de medidas de emergência para a erosão causada pelos incêndios, mas muito solo pode perder-se com as chuvadas repentinas e intensas se não forem atacadas já.

“Tenho estado no terreno e verifico que já há medidas em desenvolvimento no imediato”, garantiu ao JN o director nacional de Defesa da Floresta da Autoridade Florestal Nacional (AFN), Paulo Mateus.

Em S. Pedro do Sul, onde três grandes incêndios consumiram 4500 hectares, “já estava a ser retirado o material lenhoso ardido e a deixar material nos declives para que não haja escorrimentos”, exemplificou.

No levantamento das necessidades, os técnicos das direcções distritais que têm informação sobre a grandeza dos fogos, o tipo de solo, o seu declive e outras variáveis, estão a elaborar relatórios sobre as situações mais críticas.

Limpeza e desobstrução de linhas de água, sementeira de plantas herbáceas de emergência (sem esperar pela sua regeneração natural) e aplicação de resíduos orgânicos (troncos e ramos de árvores), formando barreiras contra o arrastamento de solo pelas chuvas, são algumas medidas recomendadas.

Os relatórios deverão estar fechados até ao dia 30 de Outubro, sendo aberto um período de candidaturas ao financiamento integral pelo Programa de Desenvolvimento Rural (PRODER), mas ainda é cedo para fazer um balanço. Os trabalhos ainda decorrem e ainda se prevêem mais incêndios.

Entretanto, muitos locais já foram atingidos por chuvas torrenciais – Seia e Chaves são dois exemplos – e já se perdeu muito solo, especialmente em zonas declivosas… “É uma contingência”, reconhece Paulo Mateus, considerando que o problema depende de várias condições e que “não vale a pena criar grande alarmismo, pois há sempre capacidade para recuperar”.

A capacidade de recuperação pode, porém, medir-se numa escala de tempo muito larga. Há situações em que o solo vai necessitar de mil ou dois mil anos para recuperar a sua fertilidade, pois foi arrastada pela água a sua camada vegetal e os nutrientes e o material fino, explica o agrónomo Eugénio Sequeira, especialista em erosão do Instituto Superior de Agronomia.

“Só com a primeira chuvada, pode perder-se 15 ou 30 toneladas de solo por hectare”, alerta.

O problema não é apenas físico, como pode parecer à primeira vista, pois os incêndios causam uma forma de erosão invisível, mas muito prejudicial – a erosão química: os nutrientes que estavam nas plantas e na folhada no solo e até no húmus, dependendo da intensidade e tipo de fogo, são dissolvidos e arrastados pela água.

E esta corre rapidamente pela vertente, se não houver plantas que a retenham. “E lá se vai a fertilidade!”, nota Eugénio Sequeira, lembrando que um pinhal com 40 anos pode precisar de mais de 60 para recuperar.

Jornal de Notícias, 05-09-2010

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