segunda-feira, 21 de maio de 2012

A meta de 100 000 ha/ano de área ardida na Região Norte

Post de: Emanuel de Oliveira
SMPC/GTF de Vª Nª de Cerveira

O presente artigo constitui parte de uma análise que tem por base a metodologia aplicada no Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios (PNDFCI, aprovado em 2008) e procura relacionar a área ardida com a quota de cada território para a meta de 100 000 hectares/ano de limite de área ardida estabelecida no referido Plano. Sendo assim, procedeu-se à determinação da quota à escala distrital e à escala municipal. Os dados que serviram de base a esta análise são os dados oficiais publicados pela Autoridade Florestal Nacional, quer ao nível da área ardida quer do espaço florestal do território de estudo (Inventário Florestal Nacional, 2006).

QUOTA DISTRITAL PARA A META DOS 100 000 HECTARES DE ÁREA ARDIDA POR ANO (META DO PNDFCI)


A Região Norte que compreende os distritos de Aveiro, Braga, Bragança, Porto, Viana do Castelo e de Vila Real registou elevados índices de área ardida, ultrapassando-se a meta então prevista no PNDFCI. Na região destaca-se, pelos resultados mais positivos, o distrito de Aveiro. Pelo contrário, o distrito de Braga destaca-se pelos resultados mais negativos, onde apenas no ano 2008 conseguiu apresentar valores abaixo do limite estipulado, no período compreendido entre e 2005 e 2011.

Pelos registos oficiais (SGIF e Relatórios da Autoridade Florestal Nacional), verificou-se que em termos gerais, quer ao nível distrital quer ao nível municipal, os anos 2007 e 2008, apresentam valores de área ardida mais reduzidos, contudo tal facto parece dever-se aos grandes incêndios de 2005 que dizimaram vastas áreas florestais, mais precisamente 140 976 hectares na Região Norte e à meteorologia menos severa registada no ano 2008.

Comparando o período de 2000 a 2006 e, com o estabelecimento dos respectivos Planos Municipais de Defesa da Floresta Contra Incêndios que tiveram início em 2007, constata-se uma redução da taxa de área ardida, no entanto o distrito de Braga apresenta um ligeiro aumento (0,2%), por outro lado, os distritos de Aveiro e Porto apresentam reduções para metade da taxa de área ardida.

CONCLUSÕES GERAIS DA ANÁLISE

Os dados obtidos conduziram a algumas conclusões:
  1. A meta estabelecida de 100 000 hectares/ano e consequente quota parece constituir um limite demasiado elevado para a Região Norte.
  2. Confirma-se a existência de incêndios cíclicos na Região Norte, cujo intervalo de tempo entre grandes incêndios é de 3 a 5 anos.
  3. A 1ª Geração dos PMDFCI poderá ter contribuído para uma ligeira redução da área ardida, contudo os dados não são suficientes para apurar a eficiência das acções realizadas.
  4. A melhoria na 1ª intervenção, com a introdução de forças helitransportadas (GIPS e FEB) e o aumento de equipas de sapadores florestais e na organização e meios de combate (Bombeiros e ANPC) poderão ter também contribuído para a ligeira redução.
  5. O ano 2005 aparenta ter sido o pior ano, mas se analisarmos detalhadamente a evolução da área ardida por distrito, deparamos-nos com as seguintes situações:
  • No distrito de Braga, em 2005 arderam 17934 hectares, mas em 2006 arderam 10267, em 2009 arderam 11 654 hectares e em 2010 arderam 14395 hectares.
  • No distrito de Viana do Castelo, arderam em 2005, 27 070 hectares, mas em 2010 arderam 24 246 hectares.
  • No distrito de Vila Real, em 2005 arderam 35 665, mas em 2009 arderam 18 050 hectares e em 2010 arderam 18 466 hectares e, em 2011, arderam 14 296 hectares.
Isto significa que apesar do ano hidrológico 2004/2005 e as condições meteorológicas do verão negro de 2005 terem contribuído, para num determinado período, proporcionarem a ocorrência de grandes incêndios florestais (GIF’s) e que até àquela data constituía algo nunca observado na Região Norte, o certo é que observando os dados da área ardida por distrito desde 2005 a 2011, constata-se uma repetição da situação de ocorrência de GIF’s neste território, com uma grande aproximação em termos de valores no ano 2010, onde nem a situação meteorológica nem o ano hidrológico se comparam aos valores registados em 2005.

SUGESTÕES PARA O ANO 2012

O ano hidrológico 2011/2012 é sem dúvida alguma muito mais grave quando comparado com 2004/2005, pelo que se deduz que a situação na Região Norte poderá agravar-se caso a meteorologia durante o período de verão seja favorável à ocorrência de incêndios. Para isto bastará um verão com temperaturas e humidade relativa normal e, numa situação mais grave, um verão com temperaturas acima do normal e humidade relativa do ar inferior aos valores normais para a época.

Para o ano corrente, aconselha-se por isso à monitorização dos dados meteorológicos a curto prazo (24 horas), a médio prazo (72 horas) e a longo prazo (168 horas), bem como o seguimento da acumulação de seca (índex Drought Code). A par do seguimento técnico e da informação aos meios de intervenção e combate, a região vai requerer uma vigilância mais exigente e eficiente, bem como a primeira intervenção e o trabalho de rescaldo e vigilância pós-incêndio, com especial atenção ao horário de flamabilidade dos combustíveis (do termo inglês flammability, que expressa o potencial global de comportamento do fogo ou a componente do perigo de incêndio referente à vegetação *). Posteriormente, caberá aos técnicos dos GTF’s reverter para a 2ª Geração de PMDFCI’s, com base nas “lições” aprendidas, desde 2005, um conjunto de acções e medidas operacionais e sustentáveis que venham corresponder à tipologia de incêndios que afectam a região, com principal atenção para os GIF’s que tendem a ser um problema recorrente e num intervalo de tempo cada vez mais curto.

* - P.Fernandes - UTAD

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