segunda-feira, 7 de maio de 2012

CARTA SOLAR E DE INFLAMABILIDADE POTENCIAL

Post de: Emanuel de Oliveira
SMPC/GTF de Vª Nª de Cerveira

Observando os dados dos incêndios florestais e, tomando como referência os dados dos grandes incêndios florestais ocorridos no Alto Minho, constata-se um aspecto que lhes é comum, na maioria dos casos: a ocorrência dá-se num determinado intervalo horário, onde a exposição, a altura angular do Sol e a época do ano parecem alinhar-se para potenciar o incêndio florestal.
Obviamente que há muito a investigar sobre esta matéria, contudo atrevi-me a relacionar a carta solar da região Norte com a carta de inflamabilidade de Doug Campbell, cujo cruzamento de ambos instrumentos deu origem aquilo que podemos chamar, sem qualquer pretensão, de “CARTA SOLAR E DE INFLAMABILIDADE POTENCIAL”.

Observando a figura destacam-se:
  • um círculo exterior graduado representado o azimute exposição/orientação da encosta) pelo que varia de 0º a 360º;
  • um conjunto de círculos que representa  os intervalos da altura angular do Sol, pelo que varia de 0º a 90º; e as trajectórias solares aparentes de alguns dias do ano, ao longo do ciclo diurno;
  • estabeleceu-se um intervalo de níveis inflamabilidade com base na Carta de Inflamabilidade de Campbell, graduado em Máxima, Muito Alta e Alta, tendo em consideração a época do ano, o ciclo diurno e a exposição, bem como dados estatísticos das ocorrências de 2011 no Alto Minho, uma vez que a georreferenciação é mais precisa pelo uso dos rádios do SIRESP;
  • colocou-se uma flecha circular no sentido rotacional do Sol, com graduação da cor, procurando representar a evolução da inflamabilidade dos combustíveis florestais.
Como podemos constatar, considerei o nível de inflamabilidade proporcional ao intervalo da altura angular do Sol, cujo valor máximo é 90º, correspondendo ao zénite e o valor mínimo é de 40º, daqui para baixo a inflamabilidade dos combustíveis vai reduzindo com transcurso do dia e da exposição da encosta.

INFLUÊNCIA DOS NÍVEIS DE INFLAMABILIDADE DURANTE O ANO

A influência do NÍVEL DE INFLAMABILIDADE MÁXIMA, ou seja o intervalo onde os combustíveis atingirão o pico de inflamabilidade (mais quentes e disponíveis) ocorre entre as 10 e as 14 UTC, com particular incidência entre o final de Março e do mês de Setembro, onde a altura angular do Sol encontra-se acima dos 60º, pelo período horário mais longo do ano, logo os combustíveis situados num relevo com exposição entre os azimutes 120º e 240 º encontrar-se-ão no máximo da inflamabilidade devido ao prolongado tempo de exposição e de insolação directa. Contudo o intervalo horário diminui para 2 horas (11 e 13 UTC) entre Outubro e Março, reduzindo-se igualmente o intervalo de exposição dos combustíveis.

A influência do NÍVEL DE INFLAMABILIDADE MUITO ALTA ocorre entre as 14 e as 17 UTC, com particular incidência entre os meses de Março a Setembro, a partir dos 40º da altura angular do Sol, permitindo um aumento da inflamabilidade dos combustíveis expostos entre os azimutes 240º e 280º. Este nível prolonga-se até finais do mês de Setembro, reduzindo o intervalo azimutal da exposição dos combustíveis e o intervalo horário.

A influência do NÍVEL DE INFLAMABILIDADE ALTA ocorre entre as 6 e as 10 UTC, com particular incidência entre os meses de Março a Setembro, a partir dos 40º da altura angular do Sol, permitindo um aumento da inflamabilidade dos combustíveis expostos entre os azimutes 80º e 120º. Este nível abrange praticamente todo o ano, contudo vai reduzindo o seu campo de maior influência à medida que transcorre o ano.

CONCLUSÕES

Considerei a necessidade de limitar um intervalo crítico, onde a inflamabilidade dos combustíveis condicionará o comportamento do fogo, tendo por base o histórico de ocorrências e os pontos de início de grandes incêndios florestais, pelo que foi considerado o intervalo horário entre as 9 e as 14 UTC e o intervalo azimutal das exposições entre 120º e 240º, abrangendo praticamente todo o ano.

A “Carta Solar e de Inflamabilidade Potencial” (CSIP) permite ao analista de incêndios determinar de modo praticamente intuitivo, a inflamabilidade potencial de acordo com a insolação e o sombreamento, ou seja permitirá apoiar a decisão para questões tão fundamentais como:
  • Onde existe maior probabilidade de ocorrer um reacendimento e em que período do dia?
  • Qual o comportamento do fogo esperado? 
  • A situação do incêndio vai ou não agravar-se se alcançar uma determinada exposição?
  • Que medidas tomar em cada situação?
Contudo, este "instrumento" carece de testes, pelo que se apela à colaboração e contributos de todos que pretendam contribuir à sua melhoria, para que constitua realmente um instrumento útil a todos aqueles que estão na planificação em matéria de defesa da floresta contra incêndios, na análise dos incêndios florestais e na tomada de decisão no combate.


Apenas se trata de uma proposta, cuja utilidade cabe a cada um avaliar.

CASO PRÁTICO

Analisando todos os dados de ocorrências no Alto Minho registadas no SGIF, referentes ao último ano (2011), pois a sua georreferenciação é mais fidedigna pelo recurso ao GPS dos rádios do SIRESP por parte dos combatentes, permitiu concluir o seguinte:
  • Das 2769 ocorrências, 1709 deram-se no período de inflamabilidade horária o que corresponde a 62% dos incêndios.
  • Cerca de 70% dos reacendimentos tiveram origem dentro do período de inflamabilidade horária.
  • Das 1709 ocorrências registadas dentro do período de inflamabilidade horária, 70% deram-se no nível de Máxima Inflamabilidade, 20% no nível de Muito Alta Inflamabilidade e 10% deram-se no nível de Alta Inflamabilidade.
 Carta de Exposições da Região do Alto Minho com a localização das Ocorrências de 2011

Esta 1ª análise permitiu ainda determinar o seguinte, cerca de 24% das ocorrências dão-se em exposições Oeste, seguidas pelas ocorrências em exposições Norte (21%), Sul (22%) e em zonas Planas (20%) e apenas 13% ocorrem em exposições Este. Salienta-se o facto de que as ocorrências com origem em encostas orientadas a Norte, ocorrem em horários de máxima inflamabilidade, quando a altura do Sol é superior a 70º, alcançando os combustíveis a máxima inflamabilidade por volta das 13 UTC, pelo que associado à topografia e ao vento com direcção Norte, o incêndio entra em pleno alinhamento e evoluirá para uma posição mais exposta e mais quente - a exposição Sul, cujo comportamento de fogo manifestará uma maior intensidade. Das 379 ocorrências iniciadas em exposições a Norte, cerca de 170 (45%) tiveram origem no período de Nível de Máxima Inflamabilidade.

Outra conclusão a que chegou-se é que 4 dos 11 GIF’s (Grandes Incêndios Florestais: >100 hectares) tiveram origem em encostas orientadas para Sul, para Oeste, para Norte e em zona Plana, por reacendimento. Destaca-se ainda que do universo dos GIF’s ocorridos (11), 6 tiveram origem no período de Nível de Máxima de Inflamabilidade, em exposições maioritariamente Sul e Oeste e todos sofreram a acção de ventos do quadrante Norte.



Contributos/Sugestões para: gtfcerveira@gmail.com

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