segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

É preciso acreditar na floresta!!!

Não vai longe o tempo em que o Homem necessitava da floresta para sobreviver. As propriedades eram heranças de gerações produtoras onde os nossos avós tratavam carinhosamente da floresta, limpavam, recolhiam gravalha, roçavam o mato, compunham o terreno por causa das chuvas, tratavam das plantas.
Conheciam pé a pé cada uma das árvores que tinham. Quando precisavam de dinheiro ou porque um filho ia casar, ou porque era necessário reparar o telhado da casa, custos que não se esperavam, então cortava-se o pinheiro mais grosso.
Os serviços florestais eram um saudoso exemplo de operacionalidade. Faziam plantações massivas, pontes, caminhos, estradas e obras hidráulicas. Existiam brigadas que trabalhavam na floresta dia após dia e guardas florestais que conheciam o território como mais ninguém e faziam cumprir as regras existentes, habitando ali, em suas casas mesmo no meio da floresta.
Havia floresta, havia trabalho, havia saber, conhecimento, técnica e sobretudo acreditava-se, havia fé na floresta.

Hoje, como diz o povo, as coisas estão pretas. Pretas do fogo, de cinzas, de doenças, da sombra das acácias, das plantas nefastas e invasoras.
Preta está a floresta, triste e só por ninguém a trabalhar, de ninguém investir.
As propriedades são inúmeras e de pequenas dimensões, com muitos proprietários e alguns desconhecidos, o seu cadastro é inexistente, as suas delimitações são confusas e provocadoras de muitos conflitos.
Os incêndios, as espécies invasoras, as doenças e a baixa rentabilidade, a baixa participação do Estado nos apoios existentes, acompanhados de desinteresse e desmotivação dos investidores e dos proprietários, são factores que levam o Homem a deixar desmoronar a importância e a vida da floresta.
Os riscos, os lobbies, as frustrações acumuladas, sucessivos e inconsequentes planos e legislação não permitem vermos a situação melhorar e a progredir provocando desânimo e tristeza.

Mas temos de acreditar e continuar a trabalhar na floresta em Portugal! Afinal, são 38% do território nacional, quase todo ele à espera da mudança de atitudes do ser humano. Para isso precisamos das ninfas, das musas e dos gnomos da floresta. Precisamos do O2, precisamos da madeira, do papel, da cortiça, do mel e dos cogumelos. Precisamos da água, do verde, dos tons avermelhados e quentes dos carvalhos, dos amarelos dos castanheiros e do aroma dos eucaliptos. Precisamos de bicicletas nos montes, de turistas nos trilhos, precisamos de casas de abrigo. Precisamos do lobo e do lince, da perdiz e do garrano do mesmo modo que precisamos do canto das aves.
Isto sim, é acreditar, é ter fé.

Somos um país florestal, um país em crise, e em crise está também a floresta.
Precisamos de mudar, de crescer neste mundo turbulento, também ele em crise. Devemos aproveitar o que temos e investir para termos mais, o que implica mudar de mentalidade para se agir e realizar.
Devemos começar pela propriedade. É preciso cadastro, registo, alteração fiscal e sobretudo emparcelamento da propriedade ao nível do investimento florestal. É preciso agrupar com áreas mínimas razoáveis e menos burocracia.
Podemos continuar pelo investimento. É imperioso investir na gestão e arborizar muito mais. Precisamos de produção, de exploração florestal adequada, de sustentabilidade, de infra-estruturas, prevenção e planeamento. Precisamos de ajustamentos de natureza fiscal e seguros florestais.
Precisamos de diversificar, produzir outros produtos da floresta, e explorar mais o recreio, o desporto, o lazer e o turismo.
Precisamos de profissionalismo, de formação, de iniciativa, de incentivos ao investimento, de motivação, de unir esforços.
E podemos acabar pelos parceiros, pelas entidades envolvidas. Precisamos de todos, juntos podemos fazer mais e melhor.
Precisamos dos técnicos e dos cientistas, dos florestais, dos advogados, economistas, ambientalistas e biólogos para inovar, aproveitar as novas tecnologias, melhorar a gestão e rentabilizar.
Precisamos das autarquias locais e dos políticos para planear o território de uma forma integrada, aos níveis municipal e intra-municipal e ajudar na estruturação da propriedade e na boa gestão dos espaços florestais públicos e comunitários.
Precisamos das associações para reestruturar a propriedade privada e melhorar o ordenamento e a gestão. Precisamos da vida dos proprietários e empresários.

Destes, precisamos de coragem e iniciativa. Precisamos de uma política florestal, escorreita de regras e sobretudo com resultados. Precisamos de apoio ao investimento florestal, assim como de novas políticas de investimentos e de gestão.

Enfim, há que ter fé, acreditar.
A floresta é importante para Portugal, para o nosso futuro. É produção, protecção, conservação e recreio. E é biodiversidade, ambiente e sumidouro de carbono. Deve também ser ordenamento do território, mosaicos, prevenção, infra-estruturação.
Floresta é silêncio e música, são cores que se misturam, são aromas que se cruzam, arbustos que picam e pedras macias. São cavalos perdidos, água que brilha e o sol que ilumina. É energia e paz.
Floresta é tudo isto, por isso acredito, tenho fé. É esta a floresta que me faz mover.



Fonte: REVISTA TER da EPATV – Escola Profissional Amar Terra Verde

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